NA HISTÓRIA DE IBIÚNA, UM ESTRANHO CASO DE EXCOMUNHÃO

Ontem (16), finalmente o editor de vitrine online, jornalista Carlos Rossini, conseguiu obter do historiador de Ibiúna, José Gomes, mais conhecido como Linense, seu depoimento que fará parte do livro PERSONAGENS IBIUNENSES.

O livro, que já conta com 20 biografias, definitivamente estaria incompleto sem a sua participação.

Foram meses de espera e de torcida e o motivo assim foi explicado por Linense: “Tenho dificuldade de escrever sobre mim mesmo!”

Autor de três livros – Y-Una Noiva Azul – História do Município de Ibiúna, 1º Centenário da Romaria e Festa de São Sebastião e Sob o Manto da Fé Surgiu Ibiúna -, aos 85 anos e com uma memória privilegiada está preparando mais dois livros sobre Ibiúna, com novidades sobre sua origem no século XVII.

Pesquisador minucioso e incansável, Linense está escrevendo um novo livro em que deverá aparecer um estranho caso de excomunhão ocorrido na década de 1820 e que permanece um mistério até hoje. [leia abaixo]

Na descrição do historiador, as terras ibiunenses constituíam um vale escuro, de mata densa e fechada, descobertas em 1618 pela maior de todas as Bandeiras com 4.000 homens, índios e religiosos. Depois seguiu seu destino até chegar nos dias presentes.

CIDADE PACATA

“Até o início dos anos de 1960, Ibiúna era uma cidade pacata, sem grandes acontecimentos, a não ser a queda de um circo em pleno funcionamento no início dos anos 1950. Um elefante enfurecido derrubou o circo”, recorda Linense. “Foi aquela correria, mas ninguém se feriu com gravidade.”

“O município vivia da sua agricultura, extração de madeira de lei, a lenha e o carvão, criação de cavalos. A sociedade ibiunense era muito unida, acolhedora e participativa. As famílias frequentavam a praça da matriz nos sábados e domingos, onse se acomodavam nos bancos da praça e colocavam as conversas em dia.”

“Os rapazes e moças davam voltas à direita e as moças à esquerda em sentido contrário, em torno de uma fonte luminosa que existia naqueles tempos. Era muito bonito de apreciar. Existiam duas correntes políticas: a política dos Lima e a política dos Soares, que mesmo sendo adversários não interferiam no jeito de viver do povo ibiunense.”

“As festas, os shows, os bailes e as apresentações eram realizados no salão do Clube Marajó, no salão do Posto Esso, no Social Clube de Ibiúna ou na sede do 13 de Maio Futebol Clube e eram bem frequentados. Existia também o cinema do Calil Elias, sempre lotado, principalmente quando exibia filmes do Mazzaropi. Até que houve o advento da televisão e o cinema foi se esvaziando e o proprietário encerrou suas atividades com o seguinte aviso na porta: ‘Fechamos, a Televisão matou o Cinema’. Era comum grupos de jovens se reunirem na praça ou nos bares da cidade, cantando, brincando, batendo papo, fazendo piadas, contando histórias.”

“Todos se divertiam. Era muito salutar assistir a essas cenas sem resquícios e sem violência. E os grandes bailes e os concorridos shows de calouros da Maria Aparecida Abidi, sempre acompanhada por Osório do Amaral (Palhaço Periquito) movimentavam as notes do povo ibiunese e ativavam a juventude. Tudo isso ficou no passado, mas é uma parte importante da história de Ibiúna.”

EXCOMUNHÃO

Um estranho acontecimento é narrado pelo historiador ibiunense:

Um dia, na década de 1820, um grupo de roçadeiras encontrou o corpo seco de homem no meio da mata. O corpo foi trazido até a Igreja, onde o padre Chico disse que iria encomendá-lo para sepultamento. Mas o povo do então vilarejo se revoltou dizendo que aquele corpo era excomungado e que não poderia ser sepultado no cemitério da cidade.

E foi exatamente isso que aconteceu: o corpo jamais identificado foi enterrado numa área de mata afastada da cidade permanecendo o ocorrido um mistério até hoje.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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