DA MALHAÇÃO DE JUDAS AO DOMINGO DE PÁSCOA

Hoje é Sábado de Aleluia da Semana Santa, o primeiro dia depois da crucificação e morte de Jesus Cristo e o dia anterior ao Domingo de Páscoa. Uma tradição de diversas comunidades católicas consiste em surrar um boneco do tamanho de um homem, e depois atear fogo a ele.

Quando eu era pequeno e chegava o Sábado de Aleluia era certo. Eu preparava um pau de vassoura e me juntava às outras crianças para malhar Judas.

Lembro-me que acreditávamos piamente que estávamos vingando e fazendo justiça contra a morte de Jesus, mesmo quase dois mil anos depois dos fatos acontecidos e narrados pela tradição católica.

Muito mais tarde, já adulto, li aqui e ali que na verdade Judas Iscariotes cumpriu um papel terrível mas decisivo no destino da fé cristã.

Se ele não tivesse feito o que fez não haveria a ressureição e a promessa de um lar espiritual para todos aqueles que acreditam em outra vida celestial, infinitamente melhor do que a que vive na terra um palco de dor e sofrimento em toda a história da humanidade.

Aqui e ali se pergunta por que Deus não interveio para proteger seu Filho de tanta dor e sofrimento pregado na cruz que se tornou o símbolo inequívoco da cristandade. Mas quem são aqueles que duvidam da vontade e dos propósitos do Criador?

Talvez o grande efeito de toda da trajetória de sofrimento de Jesus tenha nos legado o sentimento da santificação desses dias da Semana Santa em que até mesmo se alimentar de carne na Sexta-Feira se tornou proibido, ainda que essa tradição esteja sendo cada vez menos acatada pelos fieis menos ortodoxos. Afinal, peixe também não é carne?

O fato ao qual voltamos é a malhação de Judas.

Amarrado em um poste, o boneco era incendiado e quando as chamas assumiam maiores proporções era derrubado e alguém se encarregava de arrastá-lo pela rua enquanto recebia contínuas pauladas até desintegrar-se e restar quase nada de seus trajes.

Aí e somente aí a garotada dava por cumprida sua missão de defender simbolicamente a vida de Jesus e voltava para suas casas com o dever cumprido por terem lutado por uma boa causa.

No fundo no fundo era um ato muito divertido, coletivo, uma brincadeira compartilhada sobre a regência de um fato que a Igreja rememora todos há 2022 anos.

Mas o que seria da vida se tanta dor e sofrimento deixassem de ser compensados pelo Domingo de Páscoa, uma das festividades mais importantes para o cristianismo, pois representa a ressurreição de Jesus Cristo. A data é comemorada com reunião familiar no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre no início da primavera (no Hemisfério Norte) e do outono (no Hemisfério Sul). Feliz Páscoa! (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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