IBIÚNA – RENOMEAÇÕES REVELAM BASTIDORES DO GOVERNO PAULO SASAKI

Em 2020, bem antes da realização das eleições municipais, tive o privilégio de saber antecipadamente quem seria eleito. Como sociólogo, realizei duas pesquisas que indicavam a vitória de Paulo Sasaki com ampla vantagem, como de fato ocorreu. Usei uma amostra tecnicamente representativa da população que vive nas zonas rural [maioria absoluta] e urbana.

Na ocasião, houve um recorde de candidatos. Nove ao todo, aqui citados pela classificação de votos recebidos: Paulo Sasaki (PTB), Renan Godinho (Podemos), Mário Pires (PRTB), Rodrigo Lima (DEM), Charles Guimarães (PSL), João Mello (PSD), Cida Ribas (PSDB), Carlos Pissarro (PMB) e Edilson Fernandes (PT).

Conforme notícia publicada por vitrine online no dia 15 de janeiro, Sasaki havia anunciado que não concorreria ao cargo de prefeito em 2020. Fez a seguinte alegação: “Na situação em que se encontra, a Prefeitura” é “inconsertável”, devido à “situação caótica criada pela atual administração”(João Mello).

Avaliou ainda que a situação estava uma “barbaridade” e que os próximos prefeitos enfrentariam problemas extremamente graves e até mesmo insolúveis nos próximos anos.

Afirmou isso, embora, como disseram alguns eleitores, tivesse boas possibilidades eleitorais, caso resolvesse se lançar por sua própria conta e risco.

UMA GUINADA

De repente, mudança! Entra em cena Fábio Bello [prefeito por três mandatos], o político mais astuto de Ibiúna, como já escrevemos aqui em outra oportunidade. Ele avaliou as possibilidades de vitória, incluindo a transferência dos votos de seus eleitores fieis para o seu apadrinhado político. Pronto! Sasaki se torna candidato.

Bello não apenas coordenou pessoalmente toda a campanha, como foi o artífice da montagem do atual governo, recheado por integrantes do seu grupo político, incluindo seu irmão, vice-prefeito, e outros parentes.

Essa situação se tornou tão evidente aos olhos da população, que Bello é reconhecido como o personagem mais influente em tudo o que acontece na Prefeitura, tendo um domínio amplo da situação.

Rege comportamentos na administração municipal, com um estilo histórico inconfundível de tomar decisões e estabelecer prioridades, num cenário de coadjuvantes.

A propósito, o irrequieto ativista político e médico veterinário Lucas Pires flagrou o que seria uma gafe notória, talvez provocada pela força do hábito.

Em Brasília, em uma reunião com o deputado federal Vitor Lippi, em um vídeo para ser exibido para a população ibiunense, Bello disse que estava ali acompanhado pelo prefeito, quando na realidade deveria ser o acompanhante do prefeito, como observou Pires em uma postagem nas redes sociais. Esse é um episódio sintomático, que reflete o espírito da gestão pública do atual governo municipal.

PROFECIA

Se fôssemos aqui desfiar um rosário de contínuas e insistentes queixas da população em praticamente todas as áreas de responsabilidade do Executivo – com destaque para o setor de de saúde e estradas municipais, e o que se tornou a marca registrada do atual governo a famigerada e interminável reforma da estação rodoviária – estaríamos a exigir muito dos leitores. Nos tempos atuais, em que as informações são cada vez mais fragmentadas e aceleradas, passamos a saber quase nada de muita coisa. Estamos sob a cômoda regência da superficialidade e cada vez mais preguiçosos na busca de conhecimentos mais profundos.

A falta de transparência do governo municipal é palmar, com exceção dos assuntos que interessam ao Executivo divulgar. Isso é um dos maiores problemas nas relações entre o Poder Público e a população. Deixa entender que as manifestações estão sob rígido controle e que é melhor investir em distrações do que manter a população informada, que constitui a base da cidadania.

Talvez, Sasaki, que já se declarou pré-candidato à reeleição em 2024, esteja sendo vítima da própria profecia, quando avaliou que a situação [da Prefeitura] estava uma “barbaridade” e que os futuros prefeitos enfrentariam problemas extremamente graves e até mesmo insolúveis nos próximos anos. Pois é, estamos vivendo aquilo que chamou de “próximos anos”.

Depois de decretar estado de emergência financeira no município [veja as notícias publicadas por vitrine online], o prefeito assinou surpreendentes decretos exonerando dois homens que gozam da intimidade do atual secretário de Desenvolvimento Urbano, Fábio Bello.

Um deles é Euzébio da Silva, cunhado de Bello e do vice-prefeito, Alexandre Bello; o outro, velho companheiro de Bello, secretário dos Negócios Jurídicos, Tadeu Antônio Soares.

Assim que vitrine online publicou essa notícia, na noite do dia 15, a população reagiu imediatamente, a maioria das manifestações zombando do ato público, qualificando-o como ‘uma manobra político-administrativa’. Alguns interpretaram o ato como uma nova postura de comando administrativo do prefeito.

Para se livrar de uma ação do Ministério Público de São Paulo, que poderia implicar o prefeito no crime de improbidade administrativa, pela prática de nepotismo, Sasaki então assinou os dois decretos.

Mas, na sequência, renomeou os exonerados(*) em postos invertidos: Euzébio, na Secretaria de Negócios Jurídicos [descaracterizando a situação de nepotismo, pois secretários aparentados podem ocupar cargos em secretarias] e Tadeu, no cargo de procurador geral.

Todavia, tanto o prefeito quanto Euzébio parecem estar sujeitos ao julgamento do processo do Ministério Público que obriga ambos a devolverem R$ 720 mil ao tesouro municipal, por conta da ilegalidade cometida no período em que ocupou essa função que configura nepotismo. (**)

Um advogado que atua em Ibiúna declarou a vitrine online que a medida do prefeito é “um ato legal, porém imoral”, considerando as condutas relacionadas ao caso.

Por todos esses fatos, numa atitude civilizada e democrática, não terá o meu voto em 2024. Perdeu a minha confiança como líder e mandatário. (C.R.)

(*) Ambos foram renomeados em cargos invertidos, em decretos publicação no Imprensa Oficial na sexta-feira (22.9), com data retroativa a 18.9, segunda-feira.

(**) Nepotismo é uma prática de favorecimento na relações de trabalho devido a parentesco. Etimologicamente, esse termo vem do latim: nepos (que significa “sobrinho”) ou nepotis (que significa “neto”).

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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