IBIÚNA – INAUGURAÇÃO DA RODOVIÁRIA EXIGIRÁ HABILIDADE DE MÁGICO CIRCENSE

Há sinais de que a reforma da estação rodoviária de Ibiúna está sendo, finalmente, retomada depois de estar há meses paralisada. Um deles é a expansão dos tapumes de alumínio que avançaram para a rua lateral, que dá acesso ao calçadão; outro, é a presença de homens no lado interno.

Como essa obra é uma novela com tempo recorde de duração, os capítulos já duram mais de 2 anos, recheada de mistérios e contratempos, os ibiunenses continuam descrentes de que ela será de fato concluída.

Mas, podem estar certos que sim. Afinal, no dia 6 de outubro haverá eleição para prefeito, vice e vereadores, e o mentor do atual prefeito, talvez o mais astuto político ibiunense, jamais deixaria que essa mancada afetasse o desempenho do seu pupilo que já anunciou sua pré-candidatura, visando a reeleição.

Antes de prosseguir, esta revista eletrônica, a publicação que mais realizou cobertura dessa famigerada reforma, especialmente os graves transtornos que provocou à população relegada a uma calçada estreita, sem proteção contra sol, chuva, frio e vento já por 25 meses a se completarem no próximo dia 20.

INAUGURAÇÃO

Para compensar o efeito tartaruga, a péssima fama da reforma interminável, incluindo cancelamento de recursos da Caixa Econômica Federal e o testemunho técnico do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo que apontou irregularidades no contrato e nos aditivos [quando os valores são majorados], o estrategista mor desse governo deve ter definido duas datas para a sua inauguração, certamente com pompa e circunstância: março, quando se comemora o aniversário da cidade, que vive um clima festivo, ou em maio, quando se realiza o maior evento religioso do município, a Festa de São Sebastião.

De um jeito ou de outro, o que se pretende é inaugurar a rodoviária num ambiente festivo, com muitos shows musicais, quando os espíritos estão mais propensos a esquecer as agruras e durezas tributadas em forma de sofrimento a grandes parcelas da população que depende de transporte coletivo.

Vão apostar as fichas num informe enunciado em 1513 por um dos fundadores da teoria política, Nicolau Maquiavel. Ele escreveu em sua famosa obra O Príncipe: “O rei [os governantes] têm memória curta, mas os súditos [o povo] não têm memória.

Nossa torcida é que passados 510 anos desse enunciado, com a popularização das informações patrocinadas pela internet, o povo consiga se lembrar do preço que pagou por uma obra realizada com franca deficiência.

Afinal, ninguém merece – sejam crianças, adultos ou idosos, entre os quais muitas senhorinhas e senhores com cabelos brancos – ter pago um preço tão alto ao serem simplesmente removidos para uma estreita calçada sem proteção alguma de uma rua que literalmente afundou com o peso dos ônibus.

A espera de ônibus foi alvo de muitas queixas.

A rodoviária estava mesmo precisando de uma reforma, mas, mesmo em seu estado precário, qualificada com “um lixo” por muitas pessoas, servia de abrigo contra o sol, a chuva e o frio. E jamais poderia levar tanto tempo para ser concluída, sobretudo porque não houve trabalhos em sua estrutura, e sim troca de telhado, de paredes e contrapiso.

O historiador de Ibiúna, José Gomes Linense, vereador eleito por três mandatos nos informou que a rodoviária, quando foi construída completamente há 33 anos, levou apenas seis meses para ficar pronta.

Então, voltando a nossa conversa, sendo considerada um emblema de mau serviço público, a inauguração da rodoviária deverá exigir uma saída de mestre, como se fosse o ato de um mágico diante de uma plateia de circo, que não consegue ver os truques, mas somente seus efeitos hipnóticos.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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