IBIÚNA – SAÚDE PÚBLICA, OPINIÕES E FATOS REAIS

Há uma grande e notável diferença entre fato e opinião. Fatos são informações verdadeiras, comprováveis por meio de provas concretas e objetivas. Opinião é apenas uma ideia de uma pessoa sobre alguma coisa ou alguém.

Isto posto, vamos a fatos relacionados ao precário sistema de saúde pública de Ibiúna, sobre o qual as autoridades municipais evitam falar, a menos que seja para opinar, sempre de forma elogiosa, frases vazias como “saúde com dignidade e respeito à população”.

Se o caro leitor assimilou a advertência inicial “saúde com dignidade e respeito à população” é mera opinião da autoridade, pois não diz respeito aos fatos que acontecem verdadeiramente. Vamos aos fatos.

CASO 1 – IRRITABILIDADE

Hoje, dia 16.2, fui atendido por um especialista. Profissional de respeito, equilibrado, experiente. Precisava que escrevesse um laudo pré-cirúrgico.

Depois de esperar pelo atendimento pelo menos três horas, quando entrei na sala e me sentei na cadeira, esperei que ele mostrasse disposição de me ouvir.

“Dr. Trouxe os exames para o senhor emitir um laudo pré-operatório.”

Para minha surpresa imediata ele disse: “Agora não vamos falar do laudo, você tem a receita dos remédios que está tomando?”

Eu não tinha, embora todos estejam no prontuário médico. Rapidamente entendi que ele estava me recebendo para uma consulta e não para liberar uma cirurgia, como estava dentro de minha expectativa.

Como já o conhecia, e o respeitava, fiquei estupefato com a reação notoriamente irritada dele, como se eu fosse um tolo que não tivesse levado a receita dos remédios que estava tomando.

Procurei lembrar-me de cabeça, citei alguns nomes e acabamos chegando a um denominador comum.

A certa altura, e constrangido, perguntei a ele:

“Doutor, por que o senhor está me tratando desse jeito?”

Daí pra frente ele deu uma melhorada no comportamento.

Depois disso, procurei ouvir outras pessoas que atuam no setor de saúde pública em Ibiúna.

O panorama que me pintaram não foi nada tranquilizador tanto no Hospital, como no Posto Central, assim como no Centro de Especialidades e na rede básica. Talvez haja um clima de insatisfação generalizada com o ambiente. De modo simples, supostamente o sistema de saúde do município estará doente latu senso.

O clima psicológico reinante não parece nenhum pouco favorável até mesmo para fazer com que médicos cumpram o juramento da categoria de acolher os pacientes como bons escutadores dos seres humanos singulares com suas necessidades sanitárias em sua total realidade mental, física e emocional.

CASO 2 – EXAME DE SANGUE

Para receber o laudo pré-cirúrgico tinha que fazer exames de sangue e um eletrocardiograma. Como decidi viver em Ibiúna como os ibiunenses, levei os pedidos para o Posto de Saúde Central, na avenida São Sebastião. Coube a um enfermeiro preencher as requisições e foi o que ele fez. A coleta foi realizada no dia 23 de janeiro de 2023. Avisaram-me que o resultado demoraria de 15 a 20 dias. Avisei a data da cirurgia e se seria possível obter os resultados a tempo. Recebi o resultado do coagulograma e da glicose em jejum, mas não hemograma.

Quem faz as análises é uma empresa de diagnósticos laboratoriais terceirizada, situada em duas localidades: São Roque e Itapetininga.

A avaliação médica estava marcada para o dia 9 de fevereiro e tive que remarcar a data porque quando compareci ao Posto, no dia 8, o exame não estava pronto. Corri para remarcar a data da avaliação médica. Quando estava sentado diante da atendente do Centro de Especialidades recebi um telefonema do Posto Central. Avisavam-me que o laboratório precisava de uma recoleta. Pronto!

Tive que tomar a atitude de buscar um laboratório particular para fazer os exames que duraram 4 dias para ficarem prontos.

Só de passagem: a coletora do serviço particular estranhou que não tivesse tirado uma amostra de sangue da orelha para a prova de coagulograma. Resumindo: ao comparar os dois resultados verifiquei que havia uma notável diferença nos dados obtidos.

Simplesmente, perdi a confiança nesse serviço prestado pela prefeitura aos cidadãos ibiunenses.

CASO 3 – SANGUE NO PEITO

No dia 28 de julho de 2023 precisei fazer um eletrocardiograma e fui ao Hospital Municipal. Passei por um médico. Fui para perto de uma porta onde havia um aparelho que foi retirado e depois devolvido ao mesmo local.

Uma senhora veio me atender. Pegou um aparelho de plástico e começou a raspar os pelos do peito. Devia estar com a pressão alta e desconfortável que nem percebi claramente o trabalho da mulher. Ela grudou vários eletrodos no meu peito e em seguida tentou enfiar várias “chupetinhas” conectadas a cabos ligados ao aparelho de eletrocardiografia.

Tentou fazer isso várias vezes. Toda hora a fiação caia, até mesmo no simples movimento de sobe e desce da respiração.

Demorei para postar essa foto e só o faço em respeito à população ibiunense

Bem, enfim, levei o resultado para o médico que me atendia. Quando estava esperando minha vez, olhei meu peito estava todo molhado. Imaginei que fosse aquele gel que se costuma usar nesse exame, mas não! Era sangue mesmo, uma mancha enorme. Quando o médico me chamou mostrei para ele o sangue e ele, imediatamente, me disse para ir à enfermaria para fazer um curativo.

Como impera a lei do silêncio em todo esse ambiente, não fiquei sabendo sobre a qualidade técnica do exame, mas acredito que não tenha sido boa. Os cabos estavam mal conectados com os eletrodos.

MUITO BEM…

Se fosse fazer aqui um relato de casos que chegam ao meu conhecimento, alguns extremamente terríveis e profundamente doloridos para muitas famílias, seria um rosário de muitas contas. Basta ouvir ou ler os depoimentos das pessoas que foram atendidas ou tiveram parentes seus atendidos no sistema. É preciso acrescentar que a maioria das pessoas têm uma tendência a deixar pra lá, para não chamar atenção para si e, até mesmo, não se tornarem alvos de algum tipo de retaliação contra si ou algum parente. Lamentável realidade!

Em vez de apontar esse ou aquele profissional, sobretudo médicos, opto para tentar descrever o clima que impera num setor que precisa de toda a atenção, respeito e valorização dos profissionais, e não o medo que se verifica em todo esse cenário, muitas vezes desolador e deprimente.

Quando a autoridade mor afirma que seu objetivo é humanizar o atendimento médico no município, alguém precisa lhe dizer o que significa esse verbo tão caro e tão menosprezado na vida real. Os dois primeiros princípios do humanismo são amor e respeito ao próximo.

Decidi fazer essa exposição com o objetivo de informar a população que ela tem direitos e que deve lutar por eles, e não se intimidar por qualquer razão, já que a vida humana deveria estar em primeiro lugar na lista de prioridades absolutas dos homens públicos desta cidade. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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