REPORTAGEM DO FANTÁSTICO REVELA RETRATO DA CORRUPÇÃO POLÍTICA NO BRASIL

O Fantástico deste domingo (8), apresentado na TV Globo, teve como reportagem-ancora o que chamou “um retrato contundente da corrupção no Brasil, a partir de informações de especialistas”. E revelou, na reportagem de Marcos Losecan e Lúcio Alves, um mal que assola o Brasil e que tem nas eleições, em todos os níveis, e nos políticos como protagonistas, a causa de desvios bilionários de dinheiro público.

Um dos depoentes em “off”, a propósito, afirmou que “político não tem remorso, tem conta bancária” e que não tem escrúpulo para atingir seus propósitos. Em uma escola em um município nordestino houve grande evasão de crianças por falta do que comer porque os recursos para a compra de merenda escolar foram desviadospara compra de votos.

As doações feitas por empresas e até mesmo por agiotas invariavelmente retornam às fontes doadoras depois que o candidato é eleito por meio de licitações dirigidas, sempre com valor superior ao que foi investido no candidato e quem paga a conta é a sociedade brasileira.

De acordo com a denúncia de uma das fontes dos repórteres, nas eleições de 2012, que movimentaram o montante de R$ 4,5 bilhões, três entre os cinco maiores doadores eram empreiteiras de obras e elas recebem 20% ou mais do que o dinheiro destinado aos candidatos. Para se ter uma ideia da grandeza da grana envolvida, a eleição de um candidato a deputado federal não sai por menos de R$ 5 milhões.

De acordo com um depoente, nada é feito porque há uma rede de cumplicidade que envolve diversas instituições e quem se atrever a apresentar denúncia “corre o risco de morte”, tal é o poder dos grupos que constituem as redes da corrupção.

Em relação às chamadas emendas parlamentares, os especialistas fizeram uma grave denúncia de que em geral os deputados e senadores retêm uma parcela do valor da emenda da ordem de 20% a 30%. Um exemplo citado: “Uma emenda no valor de R$ 1 milhão, por exemplo, pode render para seu autor até R$ 300 mil.

Ainda de acordo com as fontes da reportagem do Fantástico, existem duas maneiras principais de desviar os recursos públicos destinados à realização de obras: 1. superfaturamento da obra; 2. execução da obra com material de qualidade inferior que reduz o custo – portanto garante ganhos adicionais – ao executante da obra. Um caso citado mostra a situação de uma rua localizada em um município no sul do País, cujo asfalto fragmentado esfarelava na mão do repórter.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.