A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA
O pedido: “O pão nosso de cada dia, nos dai hoje”, da oração que Cristo ensinou, talvez precise ser mudado para: “ A água nossa de cada dia nos dai hoje.” Com o atual problema de falta de água sem perspectiva de solução, aos que têm fé, só resta rezar para que chova. E chova em abundância. Caso contrário, não haverá água e, sem ela, não haverá pão.
Só damos valor à água quando ela nos falta. Ou, nas palavras do escritor Thomas Fuller, “enquanto o poço não seca, não sabemos dar valor à água.” Precisamos, portanto, aprender a valorizá-la sempre, e não só quando falta.
Não é fácil, atualmente, ensinar as pessoas a valorizarem a água. Elas, no entanto, mesmo sem ensiná-las, supervalorizam o petróleo. Mal sabem que, como afirmou o cientista norte-americano Peter Gleick, existe alternativa para o petróleo, mas não para a água. Segundo ele, no futuro, muitas de nossas preocupações com recursos naturais não serão com petróleo, mas com água. Há substitutos para o petróleo, mas não os há para a água.
Mas, apesar disso, observa-se que quase todo mundo sabe o preço de um litro de gasolina, mas quase ninguém sabe o de um litro de água. Só saberão o preço de um litro de água quando se tornar tão escassa a ponto de ser necessário tarifá-la adequadamente. Preços, observa Gleick, “são uma ferramenta valiosa para educar as pessoas sobre o valor da água”. E, em seguida, informa: “Água continua a ser o serviço mais barato que pagamos. Eu pago muito pela minha água, mas menos do que pago por eletricidade, celular, TV a cabo, internet, e provavelmente é a coisa mais importante que uso.” E, conclui: “Se você acordar de manhã, abrir a torneira e não sair nada dela, aí você entenderá o valor da água.” (Folha de S.Paulo, 15/09/2014)
Mas, para não chegar a este ponto, é importante olhar a maneira como usamos a água, “de modo a garantir que seu manejo seja tão eficiente quanto possível – nos banheiros, nas máquinas de lavar, na indústria, na agricultura.” (Idem) Antes disso, porém, a primeira coisa a fazer, é cortar os vazamentos e as perdas, o que requer investimentos em infraestrutura. Sem esquecer, é claro, a busca de mais fontes.
De uma maneira ou de outra o problema de água precisa ser resolvido. Não pode acabar em pizza, como costuma ocorrer com vários outros em nosso país. Mesmo porque, uma simples pizza marguerita, consome mil e trezentos litros de água. Nesse cálculo entra a água consumida desde o início – na produção do trigo, do tomate e do leite – até a sua finalização para ser servida.
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Claudino Piletti é professor-doutor em Pedagogia e autor de vários livros. Gaúcho de Bento Gonçalves, reside em Ibiúna há longa data com a família.