ATUALIDADE – RISO PODE TORNAR A VIDA SUPORTÁVEL NO TORMENTOSO SÉCULO XXI
A história do riso é vastíssima e constitui uma dupla característica de todos nós, humanos. Entre todos os animais, o homem é o único que sabe que vai morrer e que ri. Aqui vamos falar do riso, não da morte, considerando-o como uma manifestação de humor essencial e que tem tanto significados quanto funções relevantes em nossas vidas e diversas formas de expressão. Antes de seguirmos adiante, repare a foto de Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, o homem mais poderoso do mundo. Esse riso lhe diz que está tudo bem ou indica um motivo para preocupação? Pense nisso e tire suas conclusões.
O filósofo grego Demócrito (460 a.C – 370 a.C), conhecido por sua reputação de hilário, ria da vaidade e das inquietações humanas. Cético, dizia que “ninguém, entre nós, conhece coisa alguma, e não sabemos sequer se sabemos ou não sabemos”. Então, para ele, aprender a rir era a sabedoria. E mais: o mundo teria sido criado por uma gargalhada dos deuses.
Ao longo do tempo, desde a Antiguidade, o riso esteve submetido ou cumpriu funções conservadoras e revolucionárias. Na Idade Média (século V a XIV), o riso foi reprimido pela Igreja, tido como pecado e coisa do diabo. A Renascença (fins do século XIV – início do século XVII), período em que houve grandes transformações na Europa em muitas áreas da vida e uma ruptura com as estruturas medievais, é considerada uma imensa gargalhada da história. Daí se iniciou a modernidade e o advento do capitalismo. Assim, e de modo simplificado, pode-se dizer há risos antigos, medievais, renascentistas, modernos e pós-modernos.
Lembra-se do sorriso de Barack Obama lá em cima? Pense nos seus sorrisos e ouça o que diz o filósofo francês René Girard: para viver em sociedade, o homem tem necessidade de despojar-se de sua agressividade natural. Entenda que isso está diretamente relacionado à nossa condição de sermos, no fundo, animais que praticam a agressividade para sobreviver e considere, por isso mesmo, um fato relatado por um neurocientista: 50% do nosso humor tem forte influência genética. O perigo mora exatamente aí: podemos agir de modo agressivo sem ter consciência desse fato. É verdade que pode se manifestar o riso sádico, o escárnio, o patológico.
O riso de que trata este artigo é da forma como o assunto foi apreciado pelo historiador grego Heródoto (484 a.C. – 425 a.C.): “Se o homem permanecer sempre voltado para as coisas sérias, sem relaxar e sem se entregar aos prazeres, tornar-se-á, sem perceber, louco ou estúpido.”
Imaginemos então isso acontecendo com Barack Obama ou mesmo com você leitor no ambiente familiar e social em que você vive. O riso então é uma propriedade essencial do homem a favor da vida.
Para fechar, vejamos o que diz um profundo estudioso do assunto, o historiador francês Georges Minois: “ [O humor] é absolutamente indispensável ao século XXI, que será humorístico ou não. Sem humor, como os dez bilhões de pessoas que nos prometeram para 2050, desmoronando sob seus dejetos e sufocando em sua poluição, poderão suportar a vida? O homem não terminou sua evolução; se ele quer sobreviver, precisa adaptar-se…e rir. Geneticamente modificado ou não, ele terá necessidade de uma boa dose de humor.”
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Carlos Rossini é editor de vitrine online