SEM A MULHER, A HUMANIDADE SERIA IMPOSSÍVEL

É extraordinária a imaginação e necessidade feminina de idealizar o amor, diferente dos homens que aparentemente e, por imaturidade, parecem não levar jeito para perceber as sutis necessidades femininas de amor. Talvez precisassem frequentar uma escola que lhes ensinasse a fazer essa descoberta com sabedoria, assim como se treinam os atores para interpretar os mais variados papéis contracenando com atrizes tudo o que fizer parte do personagem. As mulheres simplesmente amam diferente dos homens, como se fossem embaladas por um místico jeito de amar, profundo e intenso. Em suma, elas “precisam” sonhar o amor, mesmo quando estão acordadas e prontas para experimentar a paixão. Elas têm uma Lilith dentro de si.

Então, um dia poderão aprender, mas são minoria os homens que percebem esse jeito lilithiano das mulheres e não são poucos os que acabam estragando uma relação, ao sentir, por exemplo, uma impetuosidade da parceira que o faz tremer na base, porque exige maturidade e confiança. Estamos falando de uma situação extremamente comum, porque as relações de amor e de enamoramento passam por um ritual desde o primeiro olhar, da aproximação inicial, das primeiras palavras, aos passos seguintes que implicam contatos físicos, sem os quais não se pode estabelecer uma intimidade necessária, como o acoplamento de uma espaçonave à estação orbital.

Um fato importante a ser considerado é que, por mais românticos que pretendamos ser, não estamos sozinhos. Vivemos numa sociedade cuja base são as impiedosas regras impostas pelo sistema econômico que estabelece a imperativa posse do dinheiro como meio para se garantir na dura realidade. O dinheiro é chave que abre portas no mundo material. Nas fábulas os príncipes e as princesas jamais precisam desse poder, pois supostamente já o possuem em abundância. Mas a necessidade de possuí-lo é tão decisiva que acaba determinando uma forte influência nas relações entre homens e mulheres. Abre conflito entre um e outro, ou fustiga a ambos mesmo que estes se amem e se mantenham unidos enfrentando as dificuldades como o barco os vagalhões do mar.

Há provas robustas que a falta dele, aguda ou crônica, pode rasgar ao meio, como se rasga uma nota em duas partes, as relações estabelecidas inicialmente por um flerte que se transformou numa fusão magnética entre dois seres. Esta referência é inserida para nos lembrar o quanto pode ser frágil a condição humana num mundo governado pela hipocrisia que serve para ocultar a realidade para aqueles que costumam sonhar e se esquecer da impiedosa e glacial forma como o capitalismo nos transforma em objetos a seu serviço, impondo uma existência de cabeças ocas.

Estamos supondo certamente uma situação em que nossos personagens se uniram em sociedade de dois num mundo cheio de armadilhas e mudanças inesperadas. O amor romântico em geral sofre múltiplos ataques dentro de uma sociedade que é economicamente promotora do individualismo e todas as suas misérias constituídas pela inveja, ciúme, traição e, como é cada vez mais evidente, a violência, verbal ou física, que ameaçam e às vezes atacam o amor com fúria. Então, o que era puro e belo pode escorrer pelo ralo. E a mulher simples, popular, tem pago uma conta altíssima, exatamente por ser mulher. Segura uma barra diária que nenhuma grana poderia ser considerada um pagamento justo.

A maioria dos “príncipes” na verdade são igualmente frágeis figuras dentro de um sistema que nem sequer compreende, porque culturalmente fomos “ensinados” a nos manter na mais proverbial ignorância dos fatos da realidade. Por isso mesmo, o roteiro seguido por eles os leva a fugir da realidade consumindo milhões de litros de bebidas por ano ou se achando “deuses” que estabelece que as Evas devam tratá-los com temos. Isso é um dos paradoxos mais comuns que se verifica no mundo, onde há lugares onde as mulheres são tratadas como seres ínferos e submetidas a castração e a condições inaceitáveis. Definitivamente, embora se ache um rei, o homem é o sexo frágil, pois as mulheres são umas fortalezas na manutenção da unidade do casal e da família.

Bem, podemos pensar que a vida é mais simples do que foi dito anteriormente, então, nesse caso, mulher, sinta-se presenteada com uma rosa mística impregnada pela sua beleza. Feche os olhos para apreciar a flor apenas dentro de você e aproveite, da mesma fora, para sentir o perfume dos seus sonhos, porque somos gratos. Sem vocês, a humanidade não existiria. Se não fosse uma mulher que se mudou para o céu, nenhuma destas palavras estaria escrita aqui. (C.R.)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.