IMPÉRIO – O QUE VOCÊ ACHOU DA FÚRIA VERBAL DE ZÉ ALFREDO A MAURÍLIO: “MORRE, SEU FILHO DA PUTA!”?
Bibliófilo de carteirinha, a mim a expressão utilizada por Zé Alfredo [Alexandre Nero]diante de seu inimigo Maurílio [Carmo Della Vecchia], no último capítulo da novela Império, com reprise hoje (14), não causou frisson algum: “Morre, seu filho da puta!”, Zé gritou a Maurílio, depois de acertá-lo com um tiro no peito. Foi a primeira vez que a Globo, a quinta maior rede de televisão do mundo, introduziu nos ouvidos de dezenas de milhões de pessoas essa locução moralmente interditada na mídia em geral, até bem pouco tempo atrás.
No que apostou o autor da novela, Aguinaldo Silva, para ser tão explícito? Na exigência de ser fiel a essa a expressão mais condizente com a realidade dos fatos, do que um “morre seu filho da mãe” ou “morre seu filho de rapariga”? Na evolução cultural e “permissão social” que franqueia seu uso? De fato a expressão é corriqueira nas relações informais e umas de suas vítimas mais frequentes são os juízes de futebol. Ou, finalmente, a televisão brasileira pode celebrar sem receio a liberdade de expressão que a sociedade madura já segura as pontas e não se choca, considerando o recurso dramático como manifestação artística e que, por definição, precisa ser livre de qualquer forma de censura?
Já disse: a mim não chocou e até considerei bem encaixada num momento de ira absoluta de um pai que vai libertar a filha Cristina [Leandra Leal] de um sequestro e está disposto a tudo, até mesmo a morrer, como, de fato, aconteceu com o Imperador. Surpreendi-me com a TV Globo que na maior parte dos últimos cinquenta anos sempre se mostrou conservadora e se mantinha distante desses atrevimentos.
Em vários idiomas
A locução “filho da puta” é bastante conhecida nos meios sociais e em diversos idiomas. Em inglês, por exemplo, existem em duas formas – Motherfuck ou Son of a Bitch. O ilutre Águia de Haia, Rui Barbosa, diria que “se trata de um indivíduo cuja genitora exerce atividades profissionais remuneradas ao coito”.
Uma das origens desse termo, de acordo com historiadores, se encontra na Idade Média. Havia nessa época muitas mulheres que se prostituíam devido a seu estado de pobreza e seus os filhos tinham que ajudar as mães fazendo pequenos furtos a comerciantes e pessoas. Então se tornou um hábito: quando algo sumia de um comércio, por exemplo, se dizia: “foi o filho de alguma puta!”
Outra possível origem se localiza num tempo mais distante. A palavra simbolizava uma deusa menor da agricultura, na mitologia romana. Era ela quem dirigia a poda das árvores. Assim, numa versão do Latim, o nome original seria “Poda”. Em honra a essa deusa, o povo celebrava o período da poda com festivais. As sacerdotisas, durante dias, exerciam um bacanal sagrado, durante o qual se prostituíam, daí possivelmente surgiu seu derivado “Puta” nas línguas de origem latina. Veja só para onde a novela global nos levou. Palavrão também é cultura. (C.R.)