Novo governo municipal vive instante “vidro cenográfico”

Um dos momentos de mais atenção de um comandante é quando o avião atingiu manche de decolagem e não há mais como voltar atrás. É subir ou subir. Habitualmente, os passageiros, mesmo de longo curso, interiormente reverenciam os anjos que estão nas proximidades para que os puxem para cima doce e carinhosamente.

Quando o avião já está nivelado, já se pode relaxar, abrir jornais e revistas e se preparar para, logo mais, tomar lanche, beber café, ir ao banheiro.

Essa é uma das metáforas que podem ser empregadas para interpretar os primeiros dias do governo prof. Eduardo. Ao enxugar quase metade das secretarias, reduzir salários e efetuar dispensas a fim de reduzir dramaticamente os custos da administração pública, naturalmente provoca uma reação estressante de grande extensão psicológica. E como acontece com o bumerangue, este volta contra seu lançador, como reação a cada ação.

Outro teste de peso é representado pelo enigma da esfinge. A máquina deixada pelo antecessor desafia “decifra-me ou te devoro”. É preciso competência, inteligência, sensibilidade e tempo produtivo para caminhar pelo cipoal burocrático e descobrir o que é essencial ser revelado.

Como animar um servidor que teve sua renda cortada substancialmente para que se sinta motivado para o trabalho? Como manter equilíbrio diante da demonstração de mágoa e raiva dos que foram dispensados? Como dizer não para aqueles que são velhos conhecidos, da mesma cidade, e que agora se encontram frente a frente, mas intermediados pelo manto do poder político assumido? Como lidar com os credores recebidos como herança do governo anterior?

Como orquestrar e harmonizar um secretariado de personalidades tão díspares ou inexperientes acumulando ao mesmo tempo várias funções, sem estabelecer um objetivo claro e o rumo a ser tomado?

Como apontou a enquete realizada por esta revista, 50% dos entrevistados se disseram inseguros quanto ao novo governo e os outros 50% resultaram da soma dos votos das categorias otimista/confiante, sendo esta última minoria.

O governo do prof. Eduardo vive um cenário em que estão presentes dois mitos: um do momento do avião que está prestes a decolar e o outro da mesa de comando com tampo de vidro cenográfico que, caso sofra impactos impertinentes, pode se fragmentar em uma infinidade de pedaços.

É por isso mesmo que deve ecoar em nossos ouvidos a palavra evocada no discurso de posse do novo prefeito: paciência. Temos de ter paciência, manifestar respeito e esperança de que uma luz pródiga e generosa imbua os novos ocupantes do Paço Municipal de coragem e sabedoria, sem se esquecer de que o povo espera e quer que dê certo.

 

Por Carlos Rossini,
editor de vitrine online

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.