O DINHEIRO SUMIU – HAJA TRANQUILIZANTES, ANTIDEPRESSIVOS E SONÍFEROS!

Enquanto cenas de imoralidades explícitas se veem rotineiramente implicando as duas, das três mais poderosas instituições do País, o Executivo e o Legislativo, o povo brasileiro paga, mais uma vez, o mico de uma crise de incompetência ou de má-fé protagonizada pelas chamadas autoridades constituídas – incrível – pelo poder delegado pelo povo nas urnas.

Se a presidente provoca o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pondo-o no que se chama “geladeira” temporária, como se a ele se pudesse imputar sua impopularidade recorde nos últimos vinte e nove anos, com desaprovação por parte de 68% da população [78% da mesma pesquisa realizada pelo Ibope disseram não confiar na presidente], há uma realidade gritante assolando a nação.

SUIÇASe fosse o título de um filme seria “Aperte o bolso, o dinheiro sumiu”. Talvez tenha se mudado para a Suíça. Se terá sumido para o próprio Governo – em decorrência de decisões tomadas entre quatro paredes, no festim de escândalos e festival de obras superfaturadas ou das gatunagens com a Petrobras, das obras faraônicas inacabadas para a Copa do Mundo e das que seguirão na mesma linha para as Olimpíadas de 2016 – a crise está em mar aberto e os aparelhos de comunicação de bordo estão avariados. O navio, portanto, está à deriva.

Estão no mesmo saco as empresas, que vêm lançando grande número de trabalhadores para fora do mercado, cortando ou adiando investimentos por falta de perspectiva de uma economia que gera insegurança, e a população que está tendo que fazer malabarismos para enfrentar a crise, já reduzindo consumo até mesmo de itens essenciais como alimentação e fugindo das lojas.

Em todo o Brasil as agências bancárias e as financeiras se transformaram em centros de peregrinação: todo mundo está atrás de empréstimos para pagar empréstimos já efetuados e não quitados. Isso vem acontecendo também em Ibiúna onde o mercado de trabalho é notoriamente restrito e o maior empregador é a prefeitura. Por aqui também as lojas estão desertas a maior parte do tempo.

Assim, já se veem os sinais de atitudes de sobrevivência das empresas. Na compra de três pneus, o quarto é de graça; compre duas pizzas e leve três; os pagamentos de aluguéis começam a atrasar [em Ibiúna existem notável número de investimentos em imóveis comerciais para aluguel], as prestações deixam de ser pagas e as lojas mandam retirar os produtos [automóveis, aparelhos de TV, etc.] nas casas dos consumidores.

As consequências psicossociais dessa realidade remetem para uma condição típica desde a origem do capitalismo baseado no patriarcado. A falta de dinheiro e as dívidas conjugadas provocam uma vergonha específica, conhecida como sentimento de impotência. E aqui parece oportuno dizer, se o Governo está implicado em falcatruas e não honra suas promessas perante a Nação, por que temos que sofrer essa doença moral?

É importante assinalar que os problemas produzidos pela força e pelo autoritarismo ao longo do tempo imputam a pobreza um preconceito de ser o “máximo sinal de fraqueza” dos indivíduos. É proibido e sinal de inferioridade não ter dinheiro. Os pobres ou desedinheirados conjunturais, por esse argumento, estão condenados a cumprir uma pena pelo crime que não cometeram, qual seja: não souberam competir e vencer, numa sociedade que tem de tudo que é sacanagem, mas quase nenhuma justiça social.

O verdadeiro horror, no entanto, não se encontra nesse cenário desavergonhado, mas no comportamento humano que continua a repetir seus gestos como se tudo estivesse normal, quando não está. Cada ser humano se torna uma ilhota cercada de muitas formas de violência por todos os lados. Por isso, haja tranquilizantes, antidepressivos, soníferos ou outros tipos de drogas para se enfrentar uma realidade tão cruel quanto o sorriso cínico de uma autoridade diante das câmeras de televisão. A sociedade, em si, continua nutrindo-se de ilusão e preconceito, e, por isso, vai continuar pagando a conta, infelizmente. (C.R.)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.