ESTAMOS TODOS SONHANDO?

A presidente Dilma Rousseff admitiu nesta segunda-feira (24) que errou na avaliação da situação econômica e que demorou a perceber a gravidade da crise que assola o país. Declarou ainda que os sinais dessa situação apareceram em novembro e dezembro de 2014, depois da campanha eleitoral e de sua reeleição.

BUDA 2Apesar desse contexto, Dilma demonstrou estar tranquila e em uma fase “budista”. Também hoje anunciou que seu governo irá fechar dez ministérios de um total de trinta e nove, tendo como prioridades cortar gastos e reduzir custos operacionais da máquina administrativa federal.

Diante de anúncios dessa natureza, nesta altura do campeonato parece pertinente indagar se nós, todos nós, brasileiros, estaremos imersos em um sonho, um sonho coletivo resultante de um processo histórico que nos torna reféns passivos diante dos poderes que se sucedem e que, enfim, acabam tendo, premidos pela dura força da realidade, admitir a própria fraqueza. Ainda ecoam em nossos ouvidos, misturados com imagens triunfalistas, as promessas que cativaram milhões de brasileiros que reelegeram a presidente, embalados na esperança de bons tempos futuros – e estamos no futuro agora.

De fato há sonhos que experimentamos quando estamos dormindo e eles não seguem nenhuma ordem lógica e se apresentam recobertos pelos mistérios simbólicos, em que, quase invariavelmente, somos os protagonistas de episódios e cenas, que, às vezes, desembocam em pesadelos.

Mas os sonhos que aqui avocamos ocorrem em nosso estado de vigília – estando acordados e é exatamente aí que a dúvida parece mais apropriada: estamos sonhando acordados e não nos damos conta disso? O mensalão foi um pesadelo, a Petrobrás é outro e está em andamento, as “pedaladas fiscais” flagradas pelo Tribunal de Contas da União, como classificá-las na arte de interpretação de sonhos e o que nos aguarda – talvez mais um terrível monstro a nos assustar – em torno do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES? Como avaliar corretamente esses treze anos do governo petista para a vida nacional, isto é, do ponto de vista da população brasileira? O mais difícil, neste momento, é nossa incapacidade de enxergar para aonde está indo o país em um mar agitado por marolas e ondas que puxam e empurram para várias direções. Os jogos das probabilidades estão em aberto e seus partícipes ilustres mais se parecem personagens de um sonho que pode se tornar um pesadelo. A quem isso pode interessar?

Buda terá sido citado pela presidente no sentido de que, apesar dos pesares, ela está centrada, calma, tranquila, segura, em meio à tormenta. Melhor que seja assim. Tudo que Buda fez na vida foi buscar o fim do sofrimento humano, descobrir as nobres verdades que nos permitem conviver com algo que nos provoca a cada instante da vida, como as ondas do mar que batem impetuosas contra as rochas constantemente, mesmo que não estejamos por perto para observar esse acontecimento, como o fato de podermos sonhar e estarmos sujeitos a confundir sonho com realidade. Debaixo da árvore Bhodi, quando se deu a iluminação de Buda? Ele despertou no sonho ou do sonho?

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Carlos Rossini é jornalista e

editor de vitrine online

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.