OPINIÃO – O SABER POLÍTICO É UMA CONQUISTA NECESSÁRIA
É muito comum ouvir pessoas dizendo que não querem saber de política, tratando esse tema com desprezo radical explícito. Alguns declaram ter “ódio” de política. Essa perspectiva é equivocada e fruto do desconhecimento da importância real que ela tem sobre nossa vida cotidiana ou da miopia gerada pelas experiências decepcionantes que tiveram.
De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “política é a arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou estados.”
No prática, muitas vezes, a política aparece como uma atividade humana contaminada por contingências, incertezas, cinismo, mentiras, contradições, surpresas, traições, pois gira em torno da conquista e manutenção do poder, e poder significa dinheiro, obtenção de obediência, controle ideológico ou factual sobre as pessoas; enfim, pode mesmo ser percebida como fenômeno em que se opõem no “eterno” combate o bem e o mal, que está enraizado nas mentes como fatalidade.
Essa própria argumentação está eivada de preconceito, pois exclui a possibilidade de as coisas mudarem, de surgirem ideias inovadoras, geradas pela própria insatisfação com a política em suas várias vertentes. A noção implícita de que tudo será igual como sempre, que nada muda, faz lembrar a ignorância, sustentada a sacrifícios mortais pela igreja católica, de que a Terra era o centro do Universo. Muitas bobagens dirigem nossas vidas. E ignorar a importância da política é uma delas, pois todos pagam um preço por isso.
A situação crítica por que passa o Brasil e que é, digamos como é moda dizer, sentida “na carne” pelos brasileiros com todos os seus flagelos: desemprego, economia recessiva, aumento dos preços, estagnação de investimentos e empobrecimento dos pobres [e isso é possível], corrupção sem fim, desmoralização do governo e, ainda, aquela impotência que você sente quando entra num supermercado. Tudo isso é muito mais é resultado da política, isto é, de uma política incompetente, injusta e injuriosa, pois provoca sofrimento do povo.
Ninguém está a salvo dos reflexos de uma gestão política desastrosa, mesmo que esteja na roça plantando e colhendo, pois tem que pagar energia, combustíveis, fazer manutenção de equipamentos, recolher impostos, etc. Portanto, a política atinge e afeta os nossos neurônios e altera nossos batimentos cardíacos. Mas, em geral, as pessoas comuns não conseguem estabelecer relação de causa e efeito e acabam entrando na fila dos doentes vitimados pela crônica ansiedade de insegurança econômica, ao se sentirem sem opção ou válvula de escape, porque o dinheiro está escasso e os juros, altos.
A relação entre política e economia é siamesa. Está de tal forma imbricada que uma não funciona sem a outra, sem que haja desequilíbrio, às vezes tremendo, como nestes tempos de um governo que perdeu o rumo e se encontra isolado e se relacionando entre si como se estivesse construindo uma torre de Babel.
Como no caso dos soros antiofídicos, o remédio para curar uma política doente está na própria política, mas em apresentação modificada, ou seja, uma política instauradora de um novo ordenamento capaz de recobrar a confiança em torno de objetivos comuns compartilhados, pois não há outro cenário, a menos que se violem as leis, para originar a solução. E isso, quando se está no meio do túnel, parece não existir como perspectiva, mas esta, de alguma forma, terá de surgir, pois estamos falando de duzentos milhões de seres que vivem dentro de um continente chamado Brasil.
____________
Carlos Rossini é jornalista e editor de vitrine online