QUE BOM É TER ALGUÉM PARA NOS DIZER O QUE PENSAR, SENTIR E FAZER,NÃO É MESMO?
Que bom ter alguém para nos dizer o que pensar, sentir e fazer, em todos os aspectos da vida material e espiritual, não é mesmo? Submetendo-se a essa condição você fica aliviado de uma carga pesada que é ser responsável por si mesmo, mas também se tornará uma espécie de Peter Pan, alguém que jamais irá crescer e jamais se tornará uma pessoa. Será um eterno dependente, um robô.
Bem se é isso que você deseja, nada contra. Em sociologia elementar ou mesmo na psicologia crítica isso tem sido nomeado como “comportamento de manada”, querendo dizer que abrimos mão de usar nossa razão e escolhemos, com as devidas vênias, viver como os animais que seguem um berrante nos pastos, um sino amarrado no pescoço do animal-guia. Vai-se para algum lugar, mas isso não tem a menor importância.
Aparentemente, viver dessa forma dá às pessoas a sensação de segurança, nada mais falso e ilusório, sobretudo quando a manada está seguindo para o matadouro para ser transformada em lagarto, maminha, filé mignon, patinho, alcatra e outras divisões que definem o custo da carne.
Peçamos ajuda à Bíblia neste momento da dura realidade que consiste em ser ou querer ser uma pessoa que pensa por si mesma, é livre e sabe tomar a própria decisão mesmo diante da maior adversidade. O Eclesiastes, capítulo 7, versículo 16 adverte: “Não sejas demasiado justo, nem te mostre demasiado sábio, para não te arruinares.” Você consegue, sozinho e com esforço, entender o significado dessa mensagem? Tente.
Se essa é uma forma para não sermos demasiado autônomos, dando um passo adiante temos o mesmo livro, capítulo 8, versículos 6 e 7, algo que nos sacode por dentro: “Grande é a aflição que pesa sobre o homem, porque não sabe o que vai acontecer, e ninguém diz como vai ser.”
Se existe o princípio da incerteza na ciência da natureza, não existirá também no mundo humano, demasiadamente humano? Desafortunadamente, não somos educados para viver na “corda bamba” e buscamos ou nos deixamos levar por argumentos sedutores e que criam uma ilusão que distorce nossa percepção da realidade tal como ela é. Nesse aspecto, nos rendemos à nossa fragilidade e nos entregamos aos nossos tutores como crianças inocentes e medrosas.
Mais uma vez evocamos o Eclesiastes, agora no versículo 25, do capítulo 7: “Voltei a aprofundar a pesquisa para saber qual o valor da sabedoria [que torna alguém em uma pessoa, grifo nosso] e da observação; para saber, se transgressão [ser si mesmo e não um fantoche, grifo nosso] é consequência de embrutecimento e se é consequência da cegueira.”
Diante desse diagnóstico, se pudesse haver aqui um resumo talvez fosse adequado dizer: a ignorância nos embrutece diante da maior dádiva que somos: a vida, ainda que breve. O resto da história fica por conta dos medos que sentimos, a todo momento, até nos sonhos, mas que aparentemente não existem para nossa percepção comum.
Bem se isso não bastar, que Bob Marley nos ajude com suas palavras: “As grades podem me prender, mas nunca vão prender meus pensamentos. Um pensamento pode ser a maior virtude de um homem, e a Liberdade só existe quando todos a consomem.”
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Carlos Rossini, jornalista e sociólogo, é editor de vitrine online