OPINIÃO – JORNALISTA DIZ QUE IBIÚNA PRECISA DE UM PREFEITO; MAS DE QUAL PREFEITO?

prefeituraO jornalista Bruno Machado publicou hoje (30), no seu “Panorama”, artigo cujo título revela uma situação preocupante: “Ibiúna precisa de um prefeito”. Iniciando com a indagação: “O que pode ser feito para resgatar o município da vala profunda a que foi relegado pela má gestão?”, conclui seus argumentos sustentando que “a única forma de mudar esse cenário é no próximo ano, nas urnas e tendo como principal aliado a consciência e a responsabilidade”. Tradução livre: caberá aos eleitores e de forma consciente eleger um prefeito que possa evitar que o município entre em “colapso”.

Nas menções que faz a Fábio Bello e Eduardo Anselmo é contundente ao tachar que nenhum deles “foi prefeito”, pois ambos “protagonizaram uma disputa que só atravancou iniciativas urgentes para o bom andamento da máquina administrativa e nenhum deles teve (ou demonstrou ter) empatia com as reais necessidades da população”.

Antes de tecer comentários sobre o artigo, ainda reproduzimos sua dedução analítica: “Há anos convivemos com o descaso dos governantes e o sucateamento criminoso de serviços básicos. Nossa miséria faz parte de um triste folclore atribuído à cidade.”

Aí está, em análise sumaríssima, as palavras de Machado [jornalista ibiunense, atualmente trabalha na Folha de Piedade], que parecem sugerir uma pergunta e é o que fazemos agora: “De que prefeito Ibiúna precisa?”. Se tivermos mais um “Macunaíma” [perdoem o imaginário], pelos traços narrados por Mário de Andrade em seu personagem, conhecido como “herói sem caráter”, então haverá de fato risco de “colapso”. Da mesma forma, um candidato cuja principal traço de personalidade for ser honesto, mas sem estofo ou carente de competência política, ainda assim o vaticínio de Bruno poderá se realizar. E se for um trapaceiro, inescrupuloso, com cara de bonzinho para satisfazer as necessidades emocionais dos eleitores, mais uma vez prevalecerá aquilo que foi citado como nosso repetitivo “folclore” político.

Há de fato a possibilidade de a história se repetir porque, como Macunaíma, somos mentalmente preguiçosos e pensar é a última coisa que fazemos, mesmo assim quando somos obrigados. De resto, nos contentamos com mentiras e patifarias comportamentais dos políticos, sobretudo em ano eleitoral [têm duas caras, uma das quais de pau].

Mas – e agora é confissão de um desejo íntimo – se a população não se deixar enganar [aleluia!], então poderemos nutrir a esperança de que algo novo acontecerá para a salvação da coletividade ibiunense carente de serviços básicos de qualidade e, especialmente de respeito explícito. E aí, então, se imporá a dúvida maior: quem se habilitará – tendo força, coragem moral, poder, conhecimento ético, moral e político, entre outras qualidades requeridas – a se candidatar a prefeito de Ibiúna? Deverá haver certamente pessoas com essas características de personalidade, mas quem estará disposto a enfrentar uma cultura administrativa cuja carga histórica, sobretudo recente, é das mais pesadas? Precisamos de um Aquiles, mas quem irá controlar as trapaças de um Odisseu? (C.R.)

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.