FELIZ 2016 – JOGUE TODO “LIXO” FORA E ENTRE LEVE NA LUZ DO NOVO ANO

ANO NOVONesse chuvoso dia ibiunense, de repente me flagrei rasgando papéis que se encontravam acumulados em minha mesa de trabalho. Ali havia cópias de documentos oficiais, que serviram para a produção de notícias que perderam a importância que tiveram, quando entraram em cena de acordo com os assuntos de interesse público, além de impressos, relatórios.

Confesso que minha iniciativa não foi racional, mas surgiu do desejo de liberdade. Resumindo, toda aquela papelada não passava de papéis manchados com palavras, frases e parágrafos. Nada além desse apreço. Havia, por exemplo, cópia de um termo de compromisso mútuo entre um prefeito e representantes de um bairro distante. Como era talvez o único jornalista presente à reunião, pediram que assinasse como testemunha, mas lamento informar que o trato não foi cumprido pelo Executivo.

Havia folhas soltas de exercícios de dicção, o trecho de uma poesia de Fernando Pessoa e um texto “muito louco”, também utilizado no curso que ministro sobre expressão verbal [como falar, dito de modo mais simples, de forma organizada e lógica] e que lido rapidamente desafia a capacidade de entendimento comum. Confunde a mente dos que tentam entender uma coisa deliberadamente feita para confundir e surpreender, com o objetivo de tirar as pessoas da hipnose a que nos conduz a rotina cotidiana que, aliás, é um dos maiores venenos contra o crescimento dos indivíduos.

Bem, de alguma forma, a limpeza para me tornar mais leve, até este ponto, refere-se a coisas materiais – papéis isolados ou transformados em folhetos. Trata-se de uma operação extremamente simples porque são objetos tangíveis, só é preciso ter atenção para não jogar fora os ultrapassados talões de cheques, certidões de casamento, contas telefônicas e da TV por assinatura, porque se isso acontecer não conte com a lisura por parte dessas empresas e lembre que você tem de dar lucro e pagar em dia e mesmo assim corre o risco de ver sua assinatura cortada impiedosa e unilateralmente. No mundo capitalista o que conta é o dinheiro, não sua satisfação de cliente.

Quase ia me esquecendo de prosseguir no raciocínio que foi aberto. Jogar fora objetos é fácil, mas jogar frustrações, dores vividas, ódio, inveja, raiva, emoções traumáticas, ciúme, injustiças, perdas – tudo isso é muito difícil, gruda como visgo em nós. Exige até mesmo a adoção dos métodos utilizados pela ciência para ver a realidade de um modo diferente e necessário.

Como superar um desprezo, por exemplo? Como trabalhar e dar um destino tranquilo ao seu coração diante uma injustiça sofrida ou uma ofensa? Como lidar com o amor desfeito repentinamente e com a traição [nesse particular seria bom perguntar aos políticos, porque nisso eles são mestres]?

Se essas coisas de alguma forma invadiram suas fronteiras e ingressaram no seu interior, acredite afetaram e poderão continuar a afetar suas atividades mentais e cerebrais, é o que garantem os neurocientistas e com os quais concordo. Por isso, fazer uma limpeza em sua mente, não apenas cosmética, também própria da data, no fim do ano é mais importante do que viver a ilusão de uma  euforia passageira, que se dissolve como uma onda na praia.

Bem, as promessas de Ano-Novo fazem parte de um ritual importante para a humanidade. A renovação coletiva da esperança é fundamental para uma impulsão de energia, uma força propulsora que nos remete para frente, para o futuro desconhecido, porque o passado, como o Ano-Velho, está morto e é preciso despedir-se dele como uma grande virada, consagrada pela palavra francesa Réveillon, que significa ceia da noite do Ano-Novo ou os festejos de passagem do ano. Feliz Ano-Novo. (C.R.)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.