OPINIÃO – ALGO ESTÁ ACONTECENDO EM IBIÚNA COMO DESEJO DE MUDANÇA POR MEIO DA SOLIDARIEDADE

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Logo cedo, no último sábado (26), um grupo de ibiunenses – dez ou doze pessoas – se reuniu, tomou uma van e viajou para Sorocaba. Todos tinham o mesmo objetivo: doar sangue. A missão foi cumprida. Outros eram esperados, mas não compareceram por motivos vários – medo de agulha ou de “ver sangue”, por questões de saúde, uso de medicamentos, de trabalho ou simplesmente por estarem ausentes da cidade.

No grupo social que organizou essa mobilização solidária houve momentos de risos. Os que estavam determinados a participar escreviam que os desistentes haviam “amarelado”, num tom jocoso e brincalhão. Um deles fez um desafio: ‘podem deixar que eu vou doar três litros de uma vez…rsrsrs’.

Esse fato, no entanto, não está isolado de uma vontade tácita e generalizada de mudança, baseada no estabelecimento de uma rede de solidariedade [que vitrine online preconizou insistentemente] para compensar as incompetências e irresponsabilidades dos órgãos públicos em todos os setores, especialmente na área da saúde, em que a dor e o sofrimento imperam.

Embora todos saibamos que o Brasil está mergulhado em uma profunda escassez de caráter das autoridades instituídas e sofrendo de uma doença que produziu metástase em todo o território nacional e que faz sofrer milhões de pessoas, em meio a um oceano de lama da corrupção jamais vista, assim como ocorreu com a destruição do rio Doce, o maior desastre ecológico já registrado na história do Brasil.

Mesmo assim, é preciso que cuidemos de nossas vidas com todas as forças que formos capazes de reunir e compartilhar, inspirados na canção dos Saltimbancos – “Todos juntos somos fortes, não há nada a temer”. Para quem está acompanhando esses movimentos incipientes e ainda em processo de formação e descobertas de lideranças populares, há fatos na pequena paisagem do dia a dia que estão sendo resolvidos por um pequeno exército de brancaleones aguerridos.

Observam-se às vezes palavras de baixo calão, frequentemente por desespero de causa, desejos de desistir, de largar tudo e sair fora, mas uma notável, embora frágil, força de atração está segurando a barra. Precisam de foco, de evitar dispersão em relação às causas que abraçam ou querem abraçar, precisam aprender a se organizar, a manter disciplina e se banharem nas estimulantes e purificadoras águas que conduzem os pensamentos e ações.

Ressentem-se de intrusões de quinta-colunas, sentem-se inseguros, usam até nomes diversificados para se protegerem daqueles que possam querer minar o grupo. O fenômeno em si reflete um momento histórico da vida dos ibiunenses que viveram longo tempo cercados por uma plêiade de medos reais e imaginários.

Uma interpretação, no entanto, é motivo de esperança: a sociedade ibiunense já deu claros sinais de que está desperta. E, por isso mesmo, talvez seja hora de dizer que todos que amam Ibiúna, na verdade querem dizer, que amam viver aqui e que todos querem uma vida melhor. E essa é uma grande razão para descobrir a coragem de exercer esse amor com liberdade e confiança.

Solidariedade, é oportuno frisar, é uma forma de comunhão que une as pessoas por meio dos sentimentos e ideias comuns tornando-as “sólidas” em seus propósitos e atitudes. (Carlos Rossini, editor de vitrine online)

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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