VIVER NO PRESENTE PODE SER BOM ANTÍDOTO CONTRA O SENTIMENTO DE SOLIDÃO

Em outubro de 1984, o navegador brasileiro Amyr Klink se tornou a primeira pessoa a fazer a travessia do Atlântico Sul a bordo do barco a remo IAT AMYR, até a Antártida, o continente gelado. Depois, ele repetiria a aventura em embarcação mais sofisticada, com os mais avançados materiais e tecnologia de comunicação.

Tive a oportunidade, na época, de conversar com ele em uma agência de propaganda para a qual eu trabalhava. Minha curiosidade, talvez sintomática, era saber como ele fazia para “vencer” a solidão.

Simpático, voz calma e baixa, um homem de estatura, Amyr disse que em nenhum momento sentia solidão. “Era preciso ficar atento a todos os movimentos, barulhos (por exemplo, produzido por uma baleia), ondas, frio intenso, que nem dava tempo para pensar em outra coisa.”

Depois, pensando um pouco mais, acrescentou que também não se senti só porque tudo lhe fazia companhia “os peixes-voadores, golfinhos, baleias, cardumes imensos, o céu, as estrelas”, em suma eis aí talvez um segredo contra o sentimento de solidão que afeta muitas pessoas, mesmo que elas estejam no conforto da sala de suas casas ou no meio de muitas pessoas. Honorários

A psicóloga Cristiana Pereira, avalia, em artigo no site “Oficina de Psicologia” que “a solidão, apesar de ser algo sentido a um nível universal, é ao mesmo tempo complexa e única cada indivíduo. A solidão não tem causa única comum, por isso, as prevenções e os tratamentos para este estado de espírito variam bastante de pessoa para pessoa. Por outras palavras, uma criança solitária que luta para fazer amigos na escola tem necessidades diferentes em relação a um homem idoso solitário que perdeu a sua esposa recentemente”. E acrescenta:

“A solidão conduz ao sentimento de um vazio, sentimo-nos sozinhos e indesejados. Nestas situações, as pessoas anseiam muitas vezes o contato humano, mas o seu estado de espírito faz com que seja mais difícil conectar-se com outras pessoas.”

Do nosso ponto de vista, pela experiência de vida, a solidão é uma imenso sentimento de falta do “outro” que sentimos dentro de nós e esse “outro” pode ser um sentimento intangível e inconsciente que parece querer nos move para “fora” para encontrar esse outro. Alguns parecem encontra-la na forma de Deus ou de alguma atividade absorvedora.

Pereira afirma que estudos realizados na Universidade de Chicago levaram à observação de que solidão está fortemente relacionada com a genética. Mas certamente existem outros fatores que contribuem para a solidão, “como o isolamento físico, a mudança para um novo local ou o divórcio. A morte de alguém importante na vida de uma pessoa também pode levar a sentimentos de solidão”.

Por fim, ainda de acordo com a psicóloga, “a solidão também pode ser atribuída a fatores internos, como a baixa autoestima. As pessoas que não têm confiança em si mesmas, muitas vezes acreditam que não são dignas da atenção ou respeito de outras pessoas, podendo levar ao isolamento e à solidão crônica”.

Eis um conjunto de dicas que Pereira apresenta para você lidar com esse tema tão desafiador para a vida de muitas pessoas:

– Permita-se aceitar que a solidão é um sinal de que algo precisa mudar;

– Compreenda os efeitos que a solidão tem na sua vida, tanto física como mentalmente;

– Considere fazer serviço comunitário ou outra atividade que goste. Estes contextos oferecem oportunidades para conhecer pessoas novas e cultivar novas amizades e interações sociais;

– Foque-se no desenvolvimento de relacionamentos com pessoas que partilham atitudes, interesses e valores semelhantes aos seus;

– Espere o melhor. Pessoas solitárias muitas vezes esperam rejeição, por isso, concentre-se em pensamentos e atitudes positivos nos seus relacionamentos sociais.

Aproveite, pode ser útil para melhorar sua qualidade de vida. Em questões que envolvem a mente humana é sempre preferível ter recursos para enfrentá-las do que não ter nenhum. Amyr Klink, por exemplo, parece estar sempre presente onde está e problema pode ser exatamente esse: estar em um lugar fisicamente e em outros (lembranças do passado, imagens fantasiosas e irrealistas ou no futuro, que como sabemos é um não-tempo agora. (Carlos Rossini)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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