IBIÚNA – SÍTIO HISTÓRICO ONDE FORAM PRESOS CENTENAS DE ESTUDANTES EM 1968 AGORA RECEBE VISITAS E HÓSPEDES  

Há pouco mais de um mês, um chileno, certamente com idade em torno dos setenta anos, bateu no portão do belo e tranquilo Sítio Vale das Águas, no bairro dos Alves, localizado em um vale nas encostas da Serra de São Sebastião, na densa e exuberante Mata Atlântica, a vinte e três quilômetros da sede do município de Ibiúna.

Há quarenta e nove anos, esse mesmo chileno, um jovem com idade em torno dos vinte anos, estava no mesmo local, mas com outra denominação – Sítio Murundu – junto com centenas de estudantes, reunidos ali para participar do XXX Congresso da União Nacional de Estudantes – UNE, que acabaram presos no chuvoso dia 12 de outubro de 1968.

Havia estudantes de todo o país e também de países da América Latina e o momento coincidia talvez com o pior período de repressão da ditadura militar no Brasil. Um mês depois, o general Cosa e Silva, baixaria o Ato Institucional nº 5, fechando o Congresso Nacional, dissolvendo os partidos políticos, prendendo e torturando muitos brasileiros.

Ainda que tenha terminado com a prisão de todos os que ali se encontravam, incluindo lideranças estudantis, o congresso entrou para a história do Brasil como símbolo de resistência e do desejo de liberdade da população brasileira.

Por ter sido o palco desse fato histórico inesquecível, o município de Ibiúna marcou, para sempre, sua presença na vida política nacional.

[vitrine online está realizando pesquisa com o objetivo de publicar material extenso e pormenorizado sobre o congresso a ser publicado em 2018, quando se comemorará o 50º aniversário desse famoso evento.]

Segundo o novo proprietário do sítio, Edélcio Perencin [ele adquiriu o sítio de Domingos Simões, que o havia cedido para o congresso, há vinte e oito anos], o chileno retornou ao local porque no dia da fuga abriu um buraco na terra e ali escondeu diversos objetos e queria recuperá-los, mas depois de tantos anos isso seria quase impossível.

SÍTIO VALE DAS ÁGUAS

Por sua fama, o sítio onde foi marcado o congresso é objeto de curiosidade e recebe visitas de várias origens, incluindo estudantes. Tornou-se um lugar para lazer e recreação.

A Unicamp realizou um vasto documentário no local. Antes de ser preso no processo do Mensalão, José Dirceu, um dos líderes estudantis presentes no congresso, trouxe diversas pessoas de Brasília para conhecerem o sítio. Ele era candidato à presidência da UNE, mas não houve tempo para a realização da eleição.

Agora os visitantes podem se hospedar no Sítio Vale das Águas, cerca de quinze alqueires. Há espaço para turistas “day use” que podem permanecer nos fins de semana e feriados, e ver de perto objetos que foram mantidos na forma original, como a árvore símbolo do evento [uma velha arueira], chiqueiro, cocheira, uma rota de fuga dos congressistas.

Há a casa grande e um chalé que podem abrigar dezenove pessoas, dois lagos pesqueiros [pesque pague], parque infantil, piscina, churrasqueira, orquidário e um ar puríssimo. O sinal para celular é péssimo.

O sítio serve café da manhã, almoço, jantar, doces caseiros, molhos, vende ovos caipiras e mantém uma horta para abastecer as refeições.

Estando lá, o senhor Edélcio dispõe de revistas, recortes de jornais, vídeos, para as pessoas que desejam conhecer um pouco mais do que aconteceu ali há quase meio século. Bom de prosa, ele conta todo o acontecido ali.

PARA SE HOSPEDAR

Existe somente um contato via whatsapp: (11) 9.8700-5577, com Edélcio ou dona Solange.

Para chegar ao sítio: Na avenida São Segastião, no centro da cidade de Ibiúna, pegar a rodovia Tancredo Neves (Estrada do Murundu) até o km 15+200m, via asfaltada, com muitas curvas e lombadas. Aí há uma bifurcação, pegar à esquerda no sentido São Sebastião-Bairro dos Alves. Seguir adiante 4km+200m [estrada de revestida de pedra]. Nesse ponto, pegar à direita na Estrada Vale Dourado [pista de terra estreita], seguir 2 km + 800m. Para quem chega o sítio se localiza do lado direito da estrada. Esse é o pior trecho, sobretudo quando chove. Praticamente não há sinalização pública para chegar ao sitio. (Carlos Rossini)

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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