OPINIÃO – O EQUÍVOCO DE BOLSONARO E A LÍNGUA SOLTA DA MINISTRA DAMARES
É natural a supervigilância da mídia em relação a todos os fatos que envolvem o novo governo brasileiro; afinal, há uma enorme expectativa em relação às medidas a serem tomadas em torno do que o próprio presidente Jair Bolsonaro resumiu e que diz respeito à construção de um novo Brasil, em novas bases éticas e morais contra a famigerada corrupção.
É importante mesmo que cada passo se torne transparente, a fim de que a sociedade possa avaliar a coerência entre intenções e atitudes concretas. Um pacto para manter Rodrigo Maia na presidência da Câmara dos Deputados representa uma mudança positiva para o Brasil?
Até que ponto os vícios tradicionais dos parlamentares permanecerão, mesmo que mais disfarçados nesse início de novo mandato, não representarão um fardo demasiado para um presidente que precisa se firmar e consolidar credibilidade e apoio da opinião pública nacional?
Digamos que esteja de pé uma forte esperança de grande parcela da população brasileira nesse novo governo, mas há também muitos que precisam ser convencidos a darem um voto de confiança, cenário em que se encontram os que não votaram em Bolsonaro, e são muitos milhões, e seus opositores radicais e odientos, como a chusma petista, e outros partidos oposicionistas.
Nesses poucos dias, já surgiram descompassos internos que chamaram a atenção sobretudo na grande mídia. Uma deles deve ser considerado como exemplo.
Num momento, o Presidente anuncia que haverá aumento do IOF – Imposto sobre Operações Financeiras e redução na alíquota do IR – Imposto de Renda. Horas depois, seu ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirma que Bolsonaro se equivocou sobre esses dois assuntos. Fato também desmentido pelo secretário da Receita Federal, Marcos Cintra.
Por outro lado, a ministra Damares Alves, de Mulheres, Famílias e Direitos Humanos, ganhou espaços e repercussão instantâneos ao declarar que “menino usa azul e menina usa rosa”, numa linha enfática em defesa de valores morais tradicionais, em torno de uma locução “igualdade de gênero”, já defendida pela bancada evangélica e pelo próprio Bolsonaro, a fim de estabelecer um controle rígido sobre um tema delicado, sobretudo no atual estágio cultural da sociedade.
Na mesma linha, Damares havia classificado de “príncipe” o menino, e “princesa”, a menina. Ambas as manifestações provocaram intensas reações em todo o Brasil, prós e contras, já que se trata de uma intervenção indevida nas liberdades individuais previstas na Constituição e que foi apontada como “um retrocesso” no processo evolutivo dos hábitos e costumes sociais que permeiam a sociedade brasileira.
Em sua defesa, ante a notável repercussão, a ministra argumentou que havia apenas feito uma referência metafórica [um recurso expressivo].
Isso, tendo como pano de fundo a memória viva da situação ética e moral caótica do Brasil, submersa nas águas pantanosas da maior corrupção histórica de que se tem conhecimento, com a redução evidente nos índices de desenvolvimento humano em todos os setores.
É preciso que os integrantes do novo Governo Federal, a começar pelo seu chefe maior, adotem os princípios do pensamento lento (reflexivo) como prudência mínima, a fim de não serem a causa de repercussões negativas em sua imagem pública ainda no nascedouro.
Em suma, tanto o Presidente quanto a ministra, podiam evitar esse desgaste desnecessário num momento em que a nação precisa se sentir segura, confiante e em boas mãos. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)