EM VOCÊ – TUDO PODE SER DIFERENTE DO QUE É

É razoável pensar no imprevisível futuro da humanidade no qual estamos inscritos assim como nossos descendentes, como do País onde estamos e, mais especificamente, na cidade onde vivemos.

Sobre o mundo, e com sabedoria, o médico e filósofo Ray Tallis, no livro Melhorando a Humanidade, revela que, segundo críticos culturais, cientistas sociais e filósofos, as pessoas em geral não conseguem perceber e enfrentar os graves acontecimentos nos quais estamos envolvidos.

“Estamos agindo como sonâmbulos e precisamos acordar. A vida humana está sendo transformada tão radicalmente, que a nossa essência como seres humanos está sob séria ameaça.”

Guardadas as proporções, não estamos nós, brasileiros, abrangidos pelo mesmo diagnóstico? Sentimo-nos seguros, tranquilos, confiantes, felizes com a vida que levamos em nossos incertos dia-a-dias?

Podemos vislumbrar um futuro feliz pelas dinâmicas dos fatos objetivos, visíveis e percebidos? Não estamos, de fato, sujeitos à lei de causa e efeito que estabelece a relação entre dois eventos, sendo o primeiro causa do segundo?

A tragédia de Brumadinho, com centenas de mortos, muitos dos quais permanecerão insepultos, não teve uma causa inicial, um sistema de represamento mais barato de rejeitos de minério de ferro, em nome da desfaçatez do capitalismo selvagem? Assegurar o maior lucro possível a um custo humano e ambiental trágico e criminoso.

O incêndio num galpão do CT do Flamengo no Rio de Janeiro, que não tinha licença para funcionar como alojamento, podia ser evitado, antes de ceifar a vida de um grupo de meninos que sonhavam se transformar em jogadores de futebol, uma realização típico da jornada do herói?

A única certeza que fica: os mortos desses episódios lamentáveis e a dor dos que permanecem vivos: pais, irmãos, amigos, vizinhos.

A lei de causa e efeito é supostamente infalível. Uma palavra ou um pensamento é uma forma de criar uma causa. O efeito corresponde à causa praticada, boa ou má.

Ela garante que uma pessoa que leva sofrimento a qualquer ser vivo, terá uma vida vazia e infeliz. Ao contrário, uma pessoa que leva felicidade e esperança a outros seres, terá uma vida feliz e próspera.

Engana-se quem ignora essa lei que, cedo ou tarde, se manifesta aos causadores do mal.

Numa linguagem mais acessível, podemos raciocinar, como referido acima pelo dr. Ray Tallis, médico inglês, filósofo, neurocientista, crítico social, autor de livros, e nos perguntar: estamos mesmo dormindo e precisamos acordar, antes que sejamos tragados repentinamente como as vítimas da lama da Vale, em Brumadinho?

Temos algo em comum: a mesma idade. E, talvez por isso, receio que nos despersonalizamos de tal forma que que nem sabemos quem realmente somos e apenas temos mínima consciência profundamente relacionada com a luta pela nossa sobrevivência diária individual e egoísta, por efeito de um medo hereditário de nos tornarmos livres e autônomos.

Achamos que somos sempre a mesma pessoa quando, na verdade, somos muitos “eus” que se sucedem constantemente, sem termos consciência dessa realidade.

Com fome agimos, pensamos e percebemos os fatos de um modo; após o almoço, de outro. Ao acordar, somos um; após o banho e o café da manhã, que aumenta nossa potência vital, outro.

Num determinando ambiente, agimos de uma forma, e mudamos em outro. Se nos falta ferro no sangue ou vitamina B12, perdemos a vitalidade, nos sentimos sonolentos e fracos e, portanto, somos outro “eu” doente.

O que se passa realmente em nosso cérebro e em nossa mente é ainda um mistério para a neurociência.

Para que possamos despertar, precisamos nos conhecer por dentro, e perceber, corajosa e humildemente, nossos pensamentos, sensações e imagens que mudam incessantemente, quer estejamos acordados ou no estado inconsciente dos sonhos.

Numa palestra que assisti há poucos dias, para viver uma vida para valer a pena, precisamos: 1. descobrir o nosso lugar no mundo onde realmente possamos ser felizes; 2. buscar sermos o melhor de nós mesmos; 3. amar o próximo; 4. descobrir a alegria e nossa potência de agir; 5. sermos livres e fiéis a nós mesmos.

Para conseguir essa conquista saiba que você é dois: “Você é você e a consciência que você tem de você.” E mais: cada vitória, cada conquista sua, requer sempre uma nova preparação.

A vida é dinâmica e exige que estejamos sempre alertas e requer humildade de reconhecer nossos limites.

Tudo isso precisa ser visto de modo diferente da forma como temos visto até agora. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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