DISPENSA DE EMPRESA VISA PÔR UM FIM AO MAU ATENDIMENTO NO HOSPITAL
Num gesto tão ousado quanto surpreendente, Fábio Bello dispensou no sábado (28) o Instituto Brasileiro de Interesse Social – Ibis, que vinha administrando o Hospital Municipal e a rede básica de saúde no município havia mais de dois anos. A atitude do novo prefeito de Ibiúna se deveu a um grande número de reclamações dos munícipes, a boatos e também notícias de falta de medicamentos e também de médicos para atender aos pacientes. Antes de tomar essa decisão, o prefeito registrou dois boletins de ocorrência por falta de médicos no atendimento hospitalar. Três empresas já se interessaram em participar de licitação para assumir as funções da Ibis, que empregava cento e sessenta pessoas no sistema de saúde municipal, e o anúncio da vencedora deverá sair nesta semana.
A Ibis foi contratada pelo prefeito Coiti Muramatsu, por orientação do então secretário da Saúde, Paulo Niyama, que ficou conhecido na cidade como Paulinho da Saúde, com dispensa de licitação, por meio de contrato emergencial por noventa dias, no valor de R$ 3.794.425,47, publicado na página 185 “Diário Oficial do Estado de São Paulo”, em 22 de maio de 2011.
De acordo com os termos do contrato, cabia à Ibis a “coordenação, orientação e administração dos serviços de saúde e fornecimento de profissionais para o Hospital Municipal e rede básica, realização de exames laboratoriais, bem como fornecimento de gêneros alimentícios tipos estocagem e perecíveis”.
Esse contrato foi sendo renovado até o fim da administração Coiti Muramatsu e acabou mantido pelo então prefeito Eduardo Anselmo, que tomou posse no dia 1º de janeiro deste ano. Eduardo fez mais: nomeou para secretário da Saúde o então gerente da Ibis, José Roberto Leone, e ainda o cumulou com o cargo de secretário da Promoção Social. Este manteve no cargo de diretor-administrativo seu amigo pessoal Renato Nogueira [que, num processo de desgaste, acabou se afastando do hospital]. Essa decisão provocou comentários desfavoráveis de parcela da população, descontente com a presença da Ibis no município, e até mesmo críticas diretas do vereador Beto Arrais de que “o novo governo não tinha mudado nada e que o hospital permanecia sob a mesma direção instalada pelo governo anterior e com problemas de toda ordem”.
No dia 8 de janeiro, o proprietário da IBIS – na realidade se trata de uma Organização Social (OS) que, em tese, não deve ter fins lucrativos – Odorino Hideyoshi Kagohara esteve no gabinete com Eduardo Anselmo, quando se queixou que a prefeitura lhe devia R$ 4 milhões, que não foram pagos na administração Coiti Muramatsu. A revista vitrine online [veja no arquivo] publicou notícia na ocasião. O prefeito então anunciou que iria mandar levantar a situação para comprovar a existência da dívida e seu valor real.
Logo depois de reabrir o hospital e a maternidade, o secretário da Saúde, Paulo Niyama, promoveu um ato festivo de inauguração na cidade com uma concentração na Praça da Matriz e um telão transmitindo direto do fato que se refletiu na imprensa, até mesmo na versão impressa da revista vitrine, já que a situação anterior da saúde era extremamente precária e a do hospital calamitosa.
Até mesmo o então vereador Eduardo Anselmo, na 42ª sessão ordinária da Câmara Municipal, em janeiro de 2012, elogiou da tribuna o secretário da Saúde e reconheceu seu pulso firme os bons serviços prestados no Hospital Municipal. O vereador Jair Marmelo também elogiou o secretário.
Empolgado com os ventos favoráveis, Paulo Niyama resolveu candidatar-se a prefeito, mas conquistou pouco mais de três mil votos, o que o fez retirar-se da cena principal do poder que exercia na administração pública municipal.
Um vereador aliado ao secretário confidenciou que este sentiu traído e revoltado. Desde então, o Hospital Municipal começou ficar à deriva e os bastidores de sua realidade permanecem conhecidos por poucos e íntimos de sua gestão. Por isso, o mesmo edil afiançou que, junto com mais duas ou três pessoas, teve que fazer um esforço concentrado, que teria incluído contatos com a Delegacia Regional da Saúde – DRS, em Sorocaba, para evitar o fechamento do hospital no fim do ano passado. Se verdadeiro, esse episódio ainda que de conhecimento tardio é preocupante. A situação nebulosa permaneceu até este sábado quando, Bello, segundo um dos seus assessores, “tomou a decisão certa e rápida para resolver de vez o mau atendimento hospitalar aos munícipes”