“MEU PAI ME ENSINOU A PESCAR E A FILOSOFAR SOBRE OS FATOS DA VIDA”

Perdão se existem pais alcoólatras, pais que agridem filhos, que os abandonam e deixam a ninhada com a mãe, pais que fazem besteiras que entristecem a vida. Esqueçamos disso por um instante para pensar que existem pais que são verdadeiras maravilhas. Pai, na verdade psicológica dos arquétipos, é a primeira figura de deus na imagem dos filhos. Ele é grande, poderoso, protetor, amigo, amoroso, o cara que sua a camisa na labuta para garantir o sustento. Digo, sem nenhuma possibilidade de erro, que meu pai foi o meu melhor amigo. Hoje seus átomos devem estar espalhados e integrados em outras formas de vida. Tenho-o em mim sua presença que me infundiu confiança e respeito. Meu querido velho ensinou-me a pescar e a filosofar sobre os fatos da vida. O que você aprendeu com seu pai?

Agora, leitor e leitora, se eu fosse você, neste domingo, dia em que se comemora [menos comércio, por favor] o Dia dos Pais, dê um p. abraço no seu velho, mesmo que ele beba, seja louco ou atrapalhado, e sapeque um beijo e diga aquilo que você sente por ele. Se tiver que chorar – e se ele o fizer – chore. Homem que é homem, chora. As lágrimas sinceras são um excelente protetor dos olhos e purificam nossas mentes agitadas.

Meu pai vinha por essas bandas de Ibiúna para pescar e, literalmente, ficava o dia inteiro na beira da represa Itupararanga pescando. Levava um guaraná, umas laranjas e lanches que minha mãe preparava para ele, e lá ficava o dia inteiro. Retornava só à noite. Surgia na estrada de terra com seu gingado jeito de andar, com os apetrechos de pesca, uma cesta de arame com uma porção de peixes. No dia seguinte, o programa seria o mesmo. Ele gostava da natureza e de ficar ali em silêncio até mesmo debaixo de chuva, acredite.

Ele fechou seus olhinhos meigos ao meu lado e seu rosto caiu levemente para a direita, enquanto uma mancha de luz dançante desprendia-se do seu corpo. Faz tempo que isso aconteceu. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.