ATAQUES DE PÂNICO PROVOCAM SINTOMAS TERRÍVEIS, MAS TÊM CURA

A palavra pânico se origina numa divindade mitológica grega: Pã. Ele aparecia subitamente diante dos pastores, que descansavam enquanto as ovelhas ou cabras pastavam, provocando grande susto nos homens, que saltavam de onde estavam para fugir – do medo. Nos tempos modernos, dito de modo simplificado, a sensação de pânico parece ser um ato de fuga involuntário – de si mesmo.

Os sintomas constituem um quadro de terror com sensações fora de controle: palpitação, suor, sensação de morte imediata, formigamento, falta de ar, desespero, etc. Já tive vários nos lugares mais inesperados,  como deitado na minha cama em casa, no trânsito, em hotéis, mas lembro-me de um em particular. Antes de prosseguir quero dar uma notícia tranquilizante: a síndrome de pânico tem cura.

Em 1973, era inaugurado o Playcenter, numa área de 85 mil m2, na Marginal do Tietê, bairro da Barra Funda, em São Paulo, que se tornou um dos cartões postais da cidade, uma imensidão de trações onde as famílias e a juventude se divertia o dia todo. Nos trinta e nove anos de sua existência, o Playcenter recebeu mais de 60 milhões de visitantes de todo o Brasil e de países vizinhos. Fechou em 2012 e este parêntese é uma forma de recordar esse magnífico empreendimento que tanto encantou crianças e adultos.

Pois bem, foi exatamente ali que tive um ataque de pânico, inesquecível por causa das circunstâncias. Havia entrado no labirinto de espelhos e, de repente, me dei conta de que não encontrava a saída. A sensação de desespero foi automática e surgiu num segundo incontrolável. Queria gritar, sair dali e não encontrava a saída e via, no jogo de espelhos, outras pessoas se movimentando naquele lugar agora “claustrofóbico” [fobia de lugar fechado]. Até hoje não me lembro como consegui sair.

Na mitologia grega Minotauro era um ser monstruoso que vivia abismado em um labirinto, sempre pronto a devorar que lá entrasse e se perdia. Teseu, como se sabe, conseguiu sair dali pela astúcia de Ariadne. Ela dera a ele um fio que o trouxe de volta de um lugar assustador.

É isso que é, com importantes e rápidas alterações bioquímicas do corpo humano, o pânico é um ataque repentino de medo avassalador. Assim como vem, vai embora, às vezes em poucos minutos. Estatisticamente acontece mais com mulheres, mas os homens também estão sujeitos a seus ataques.

Abandonar um carro no meio da avenida e sair correndo em busca de um hospital é uma cena conhecida em certos graus de pânico, assim como os tremores da terra avaliados pela escala Richter. Ficar só em algum lugar é um tormento prévio para quem já experimentou um ataque de pânico, assim como se encontrar num ambiente fechado ou aberto “demais”. É como a pessoa fosse uma árvore que momentaneamente perdesse a ligação com suas raízes.

Sofri o primeiro ataque quando tinha dezessete anos. Estava numa festa e, de repente, meu coração disparou violentamente no peito. Estava dançando numa festa de aniversário. Comecei a tossir e a desesperar. Me levaram para dentro da casa, sentei num sofá. Daí a pouco senti que não tinha coração ou que estava morto. Um ataque de pânico tem o poder de disparar a adrenalina em nosso cérebro, assim como a imaginação sem controle e em todas as direções. Outra vez estava com meus filhos e minha mulher dentro de um túnel da Serra do Mar totalmente parado. Senti que estava sufocando, disse bobagens e depois me senti totalmente equilibrado. Dá para entender as manobras de Pã?

Mas, isso passa. Há cura total na maioria dos casos, em geral com o uso de antidepressivos e bloqueadores de neurotransmissores e psicoterapia. A realização de exercícios regulares e mudança de hábitos alimentares orientada reduzem drasticamente a possibilidade de a síndrome se manifestar. (C.R.)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.