“NOS SENTIMOS TRATADOS COMO LIXO”, AFIRMAM RECICLADORES DA CREIA SOBRE PREFEITURA DE IBIÚNA

creia 1A situação de oito pessoas que trabalham no galpão de coleta seletiva de lixo da Cooperativa de Recicladores por Ibiúna e o Ambiente, localizado na avenida Antonio Falci, próximo à rodoviária, é vergonhosa. Trabalham em condições subumanas, sem nenhuma segurança individual, sob diversos riscos de se ferirem, contrair doenças, e agora temem estar na iminência de o local ser fechado.

O drama familiar dessas pessoas é gritante. Silvana Domingues, presidente da Creia até a última eleição, sem marido e mãe de dois filhos já não consegue pagar o aluguel de R$ 300,00 em uma casa simples localizada no Regi, próximo ao Residencial Europa. Ela chegava a tirar esse valor por semana quando o galpão funcionava normalmente, agora esse valor está em torno de R$ 50,00, por falta de material que vinham recebendo do caminhão [nos dias 22, 23 e 24 da semana passada o galpão ficou fechado]. Sheila Aparecida Lira Soares, outra cooperada, mãe de cinco filhos e também sem marido, está com a luz cortada em sua casa no bairro da Cachoeira e usando velas, também por ter sua renda diminuída. A situação é idêntica em relação aos outros seis cooperados.

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“Nós nos sentimos tratadas pela prefeitura como o lixo que reciclamos”, afirmaram tanto Silvana, que trabalha no local há cinco anos, quanto Sheila. Argumentaram ainda que a prefeitura nos trata com desprezo e “nem considera nossa existência. Pedimos para falar com o prefeito e ele não nos recebeu. Antes recebíamos cesta básica e agora até isso nos tiraram. Além disso estamos sendo maltratados pela autoridade municipal.”

AMBIENTE PERIGOSO

Um local da maior importância sanitária para o município, localizado na região considerada central da cidade, se apresenta calamitoso: não há no local bebedouro, mas um poço, com água contaminada, sem tampa [nesse tempo de dengue], banheiros insuportáveis tal é a imundice; uma pequena caixa de água é utilizada perigosamente para aquecer a marmita [usam uma resistência de chuveiro para esquentar a água]. Não há no local, que concentra material altamente inflamável, nenhum extintor.

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Todos atuam sem os chamados EPIs [Equipamentos de Proteção Individual]. Não têm capacete, óculos, botas, luvas, pás, vassouras, rastelos e nem roupas adequadas. “Outro dia o secretário do Meio Ambiente veio aqui e nos pediu para removermos um monte de vidros, mas como podemos fazer isso sem luvas?”, perguntaram as cooperadas.

O galpão é propriedade de um empresário do setor de material de construção na cidade. “Ele veio aqui – disse Silvana – nos pedir a chave. Alegou que a prefeitura lhe deve R$ 18.000,00 de aluguéis atrasados já há seis meses e que quer o imóvel de volta.”

CAMINHÃO

O caminhão que a Creia recebeu do Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição – Fecop é dirigido por um motorista da prefeitura por meio de um convênio que assegura uma verba mensal à prefeitura. “Em que estão utilizando essa verba, se nós não temos nem sequer uma prensa em condições normais de uso?” [A improvisação das ligações elétricas da máquina também oferece risco de acidentes aos seus operadores.]

Há mais um agravante o caminhão é utilizado pela prefeitura para outras finalidades, como fazer mudanças, transportar carteiras escolares, plantas e outros objetos, embora tenha sido destinado pelo governo estadual [na portas do caminhão há clara indicação de sua função] para uso exclusivo na coleta de lixo, cujas quantidades [levadas para a reciclagem] diminuíram notavelmente. Ninguém sabe exatamente quantas toneladas de lixo é reciclado e tampouco para onde estará indo o que vem sendo recolhido em condomínios.

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Silvana informou ainda que um caminhão Mercedez que fora doado por Furnas e equipado por uma gaiola doada pelo Supermercado Ibiúna, depois que fundiu o motor, “está apodrecendo na Garagem da prefeitura”.

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Prefeitura não informa

Na sexta-feira (24), vitrine online [depois de receber denúncia de leitores em seu Facebook] e seguindo o protocolo estabelecido pela “lei da mordaça” imposta pelo governo local no dia 5 de fevereiro último, solicitou informações oficiais sobre o funcionamento do galpão à assessoria de Imprensa da prefeitura e até agora (27) não recebeu informação alguma. Na verdade até solicitaram à revista que fosse novamente o local hoje (nesta segunda-feira) para verificar, porque o secretário do Meio Ambiente teria comentado que o galpão estava funcionando normalmente, o que não corresponde com a realidade constatada. (C.R.)

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.