OPINIÃO – FABIO BELLO E O SEGREDO DA CHAVE DE OURO
O professor Fábio Bello [lecionou no ensino básico], prefeito de Ibiúna, é talvez o mais astuto político ibiunense de que se tem em conta na memória popular [outro, muito habilidoso, foi Zezito Falci]. Além de persistente em busca do poder é obstinado em seu método de trabalho, quer concordemos ou não com isso, pois ele segue o próprio rumo, digam o que quiserem.
Recentemente, Bello, em entrevista a um veículo de imprensa local – depois de vergastar seu antecessor, professor Eduardo Anselmo, atribuindo obras e serviços superfaturados no governo deste, tendo até mesmo de interferir e refazer os contratos para ‘reduzir custos para a prefeitura’ – anunciou que lhe resta um ano e meio de mandato e que o“fechará com chave de ouro”.
Refletimos antes de dedilhar estas linhas e decidimos escrever pensando na população que consome notícias e, frequentemente, pode necessitar de, em vez de aceita-las passivamente, de um esforço de reflexão a fim de inseri-las no devido lugar que merecem do ponto de vista da opinião pública.
A frase do prefeito é nada mais nada menos do que uma abstração de caráter político. Refere-se a um fato que pode ou não acontecer daqui a dezesseis meses, mas essa particularidade é o menos relevante do sentido significante real da frase.
A pergunta aqui é: o que é chave de ouro? Chave de ouro sob que ponto de vista? Enquanto pudermos imaginar desde o nada a espetaculares feitos administrativos, de que se trata, então, afinal, essa locução e qual o seu objetivo ao ser projetado em direção dos nossos olhos e de nossas mentes? Ou seja, o que ele pensava obter com essa frase de efeito?
Se o prefeito tivesse, junto com a promessa, explicitado o que irá fazer e os objetivos a serem alcançados, então, sim, haveria validade expressiva em sua manifestação, desde que a população concordasse com suas ideias do que chama de chave de ouro.
Portanto, enquanto permanece somente na subjetividade de Bello o que temos é um segredo íntimo sem compartilhamento com o povo. Bem, digamos que ele tenha a prerrogativa de fazer uma grata surpresa, mas o que faremos com a imagem [cada um tem a sua] da chave de ouro, como aparece em histórias fantásticas nos contos de fada?
Para quem atua na imprensa, uma chave de ouro seria estabelecer uma política de transparência pública, por exemplo, facilitando o acesso à informação como um instrumento de alto valor democrático. E isto parece estar fora dos planos. Ao contrário, no dia 9 de março de 2015, por meio de um comunicado interno, seu governo estabeleceu uma “lei da mordaça” que se mostra vigente hoje, seis meses depois de imposta aos servidores municipais. Seus reflexos práticos são palmares no dia a dia e marcam uma imagem opaca do seu governo. Só há espaço para informações favoráveis e assim garantidas para irem ao conhecimento púbico. Estamos fora da liturgia, mas há um espírito de autoproteção baseada no imperativo de haver um imprimatur. (C.R.)