OPINIÃO – PODE HAVER UMA RUPTURA COM A TRADICIONAL POLÍTICA IBIUNENSE EM 2016?

NOVA RUPTURAO imaginário político da população ibiunense pode ser dividido em dois períodos, desde quando foram realizadas as eleições de outubro de 2012. Um antes e outro depois da decisão tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral – TSE no dia 25 de junho de 2015, quando manteve o atual prefeito, Fábio Bello, no cargo, por 5 votos favoráveis e 2 contrários, que foi motivo de grande repercussão no município.

Houve aqueles que comemoraram com euforia a manutenção do mais manhoso cacique político da cidade e aqueles que ficaram indignados com a decisão da justiça eleitoral, que teria jogado no limbo a chamada lei da “ficha limpa”. Entre os novos personagens em cena, o que mais se aproxima do seu estilo, até mesmo no jeito de falar, é o vereador Carlos Marques Jr., que já se lançou pré-candidato.

Por isso mesmo, e estimulado pelo respaldo dos ventos até aqui  favoráveis, Bello estaria mais candidato do que nunca ao cargo de prefeito nas eleições de 2016, mesmo que, segundo apontam alguns observadores, concorra por meio de uma medida liminar, se é que esta venha mesmo a ser necessária. Seria o maior fenômeno da história eleitoral em Ibiúna se conquistasse mais um ineditismo de uma quarta eleição, além de reinar soberano por um mandato de quatro anos completos, para deitar e rolar.

Até agora não se sabe se as palavras do ministro Gilmar Mendes [de que Bello estava garantido no cargo nessa gestão, mas impedido de concorrer na próxima, por estar inelegível] fazem parte formal, como ressalva, da deliberação tomada pelo TSE de mantê-lo no cargo. Desde então, muitos ibiunenses foram tomados por maior descrença nos atos oficiais cujas prerrogativas estão sujeitas a interpretações inesperadas e imediatas.

Mesmo que o período da campanha eleitoral tenha se reduzido de noventa para quarenta e cinco dias, com a recente reforma política, Bello já está em plena campanha pré-eleitoral. É visto percorrendo os bairros nos fins de semana, repetindo o estilo que lhe permitiu comemorar o único caso de um terceiro mandato na cidade de Ibiúna, mesmo que de forma fatiada. No dia 3 de outubro completou um ano de mandato sem interrupção e seguirá, até o final, no dia 31 de dezembro do próximo ano.

Ele é o mais temido adversário de todos aqueles que estão na mira do mesmo cargo, tendo investido intensamente para conquistar e manter sob suas asas o maior número de partidos políticos para assegurar resultado majoritário para si e levar o maior número de aliados possível para o Legislativo. Obteve, na eleição de 2012, algo em torno de 19.200 votos, muitos dos quais podem ser considerados cativos.

Mas o colégio eleitoral ibiunense – o maior da microrregião – é de 58.370 eleitores [de acordo com o Cartório Eleitoral, em 8.10.2015], número que poderá se ampliar até o início de maio de 2016 – prazo para liberação de novos títulos para a eleição de 2016 -, sendo que há aí uma diferença aproximada de 40 mil sufrágios, o suficientes para justificar consultas aos oráculos por parte dos demais postulantes ao cargo de prefeito.

Há outros nomes prováveis nesta disputa, que exigiu mudança de estratégia devido ao prazo de filiação partidária que foi prorrogada, em vez de um ano, para seis meses antes das eleições previstas para o dia 7 de outubro de 2016.

Carlos Roberto Marques Jr., que deixou o desgastado PT e se filiou ao PSB, em que vai apostar todas fichas contra Bello, é um deles. Paulo Sasaki, estimulado pelos votos recebidos como candidato a deputado estadual pelo PTB, é outro, mas ainda há incerteza de como se dará uma possível composição do trio Bello, Nélio Leite e Sasaki, ainda que este último esteja reafirmando que sairá candidato em conversas informais. Na eleição de 2012, conseguiu que Leite ficasse de fora. Assim como João Mello, de modo surpreendente, desistiu da disputa na última hora.

João Mello, que, segundo se propala, é “um eterno candidato”, está afastado de Ibiúna e morando em Sorocaba, onde exerce suas funções como médico pediatra. Mas, lembra-se, o coronel Darcy Pereira esteve muitos anos longe de Ibiúna e venceu surpreendentemente em 2008. Mas é preciso notar que os casos têm características e posturas diferentes. Darcy venceu pela humildade e simplicidade notórias, virtudes que sensibilizam os eleitores ibiunenses, haja vista o que aconteceu com o professor Eduardo Anselmo, na mesma linha de raciocínio. Em ambos os casos houve uma coincidência também de destinos inesperados e lamentáveis.

O empresário da educação Leandro David Godinho já teria a unção do PSDB estadual para o cargo, ainda que Mello e outros pretendentes estejam de olho na indicação por esse partido, que tem forte tradição no município de Ibiúna. Existe no bairro da Cachoeira um reduto político, hoje menor do que no passado, do tucanato: José Serra, José Aníbal, Fernando Henrique Cardoso, que vendeu sua chácara, mas tem uma suíte que ocupa sempre que vem a Ibiúna, em um condomínio próximo, entre outros medalhões.

Cotado como um nome poderoso, o empresário Luciano Rolim de Freitas, definitivamente está fora da corrida. Embora pudesse e até quisesse concorrer, obedeceu aos seus familiares e abriu mão dessa possibilidade. Talvez no futuro, pois é jovem. O PSOL, recém-instalado em Ibiúna, anunciou que terá candidatura própria à Prefeitura, o que poderá ocorrer com outras agremiações, como a Rede Sustentabilidade, também já desembarcado em Ibiúna e, a partir daí, o campo fica aberto para fatos novos.

Na tela de fundo está se esboçando, discretamente, o desejo oculto de se formar uma aliança, uma espécie de bloco interpartidário, para impedir o virtual triunfo de Bello e pôr um fim a um mandarinato persistente que, de acordo com um bom observador político da cidade, se baseia “na sedução de pessoas ingênuas, que se deixam levar pelas aparências, gestos teatrais e promessas vãs”. Essa perspectiva remete a uma orientação dada por Maquiavel no começo do século XVI, segundo interpretação do filósofo Nigel Warburton: ‘Para ser líder é preciso ter êxito, demonstrando ser honesto e gentil, enquanto quebra promessas e age cruelmente’”. Toda semelhança com a realidade aparente  será mera coincidência?

A formação de um bloco oposicionista, no entanto, enfrenta alguns obstáculos consideráveis na política ibiunense que é refratária a esse tipo de conduta, sobretudo pela existência de rixas que se refletem em relacionamentos pessoais e que produzem afastamentos históricos e dificultam aproximações de caráter estratégico.

Além disso, há fatores determinantes para que isso aconteça. Em primeiro lugar, os partidos, eles próprios, decidem em vista dos resultados das pesquisas da preferência eleitoral em que apostam suas fichas. Então, se a pesquisa indicar um segundo lugar consistente, quantos o apoiariam em nome de um eventual interesse comum de virar a mesa em Ibiúna?

Essa conquista exigiria tanto competência e habilidade política, quanto energia para o convencimento e, certamente, a barganha por cargos na estrutura governamental, como é traço marcante na tradição política brasileira, apesar de tudo que temos visto no governo federal que está de pernas quebradas pela infidelidade e ambição própria para conquista do poder. E, claro, pelas próprias falhas cometidas, algumas, como se vê na atualidade, absurdamente primárias, como as “pedaladas fiscais” e, mais grave, as suplementações de verbas sem aprovação do Congresso Nacional, como apontou ontem o Tribunal de Contas da União.

Por tudo isso, nota-se, na população, um desejo latente ou esperança de uma ruptura com a política tradicional, repetitiva e obscurantista no município, e a vontade de uma mudança real no status quo, já que está cansada de ver o município estagnado e com problemas que parecem insolúveis e eternos. Como se vê, às vezes é preciso, sobretudo no mundo da política, crer ou construir utopias.

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Carlos Rossini é jornalista e editor de vitrine online e apresentador do programa “O repórter da cidade”, da TV Ibiúna [www.tvibiuna.com.br].

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.