CENTENAS DE PESSOAS PRETENDEM CONCORRER A UMA VAGA NA CÂMARA MUNICIPAL DE IBIÚNA

camara eleiçãoAlgo em torno de duzentas a trezentas pessoas já se mobilizam no município de Ibiúna, ainda que discretamente para não fazer marolas antes da hora, para disputar uma das quinze cadeiras na Câmara Municipal, na eleição de 7 de outubro de 2016. Há algumas motivações para esse interesse a serem consideradas.

Supostamente, a primeira é o subsídio, nome para salário de vereador ibiunense, que gira em torno de R$ 9.000,00 mensais, em valor bruto. Cada um deles recebe líquido cerca de R$ 7.100,00. Por si só, essa é uma atração considerável, levando-se em conta a crise econômica por que passa o Brasil, com inflação alta e desemprego, que já superou a casa dos oito milhões de pessoas.

A segunda diz respeito – mas, no fundo também acaba desembocando em dinheiro, a ser administrado – à conquista e manutenção do poder por grupos políticos da cidade, cujo orçamento, embora seja relativamente pequeno, quando comparado a grandes cidades, é relativamente considerável, já que diz respeito a contratações de fornecedores de produtos e serviços.

A terceira, a fim de que seja mantido um mínimo pudor, corresponde à vontade sincera e verdadeira de contribuir com o progresso e o desenvolvimento da cidade, seja por meio de criação de novas e atualizadas leis, projetos criativos e necessários, fiscalização correta dos atos do Executivo, etc. Esta, digamos assim, seria a interpretação mais saudável por interesse demonstrado.

Além desses fatores, há outro que não pode ser desprezado e diz respeito ao desejo dos seres humanos de se sentirem poderosos em relação aos mortais comuns. É uma vontade de ser reconhecido, reverenciado, de sentir-se importante, inspirado num modelo histórico já quase completamente derretido que sustentou a estrutura de reinados e principados.

Por isso, no jogo amoral dos negócios políticos, vendem-se e compram-se partidos que, acumulados em uma aliança, aumentam o potencial de pegar maiores fatias do eleitorado ou mesmo compram-se candidaturas. Não custa lembrar que os cifrões são cifrões, entregues em espécie, como manda o figurino das regras de bastidores. Aqui nos referimos quase inteiramente à disputa pelo Executivo.

Ibiúna apresenta, como característica histórica: a sedução dos eleitores por meio da exploração de traços culturais frágeis da população, que tende a se perpetuar pela repetição da forma – incluindo-se aí promessas de cargos, acordos para o futuro e, pura e simplesmente, doação de objetos ou em espécie diretos.

Supõe esta reflexão que somente um choque de realidade, implicando diretamente a população, será capaz quebrar esse ciclo repetitivo, que incomoda boa parcela da população desencantada com seguidos administradores da cidade.

Há uma notória força inercial, inclusa no comportamento político tradicional, nas relações diretas entre eleitores e candidatos, em que estes apostam suas fichas. Os indivíduos-eleitores são vistos como uma massa manipulável por meio de representações “teatrais” muitas vezes cínicas. A exploração emocional se dá pela exploração de brechas inocentes.

É previsível, portanto, que os políticos cínicos riam diante dessa narrativa jornalística, por acharem impossível haver “um choque de realidade”, entre nós. Será? Sabem de antemão que ele exige recursos pouco encontráveis no atual estágio político da sociedade como um todo, ao mesmo tempo, dividida em interesses particulares, relações de parentesco, compromissos que não se cumprem além das palavras, diversidades acentuadas na percepção dos fatos.

Mas, enfim, é preciso considerar que existam novas pessoas postulantes, ainda não contaminadas por vícios nefastos, que vão se apresentar ao eleitorado pela primeira vez, com o firme propósito de contribuir para que haja efetivamente mudança para melhor na política do município, e que se candidatarão exatamente por se sentirem agentes da mudança necessária. E, se for assim, será muito bom para a cidade que sonha com uma vida melhor. E sabemos que isso é possível. (C.R.)

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.