A COVID ESTÁ MATANDO MAIS, INFECTANDO MAIS, ATERRORIZANDO MAIS. “E DAÍ?”

As metáforas empregadas pelos grandes veículos de imprensa brasileiros – 250 mil mortos pela doença equivaleria a quatro aviões a jato caindo por dia ou quatro estádios do Maracanã lotados – são emblemas da estarrecedora situação provocada pela pandemia no Brasil, segundo colocado no ranking mundial de mortes, só ultrapassado pelos Estados Unidos, que passou de meio milhão de vidas ceifadas.

Mais: o colapso nas redes hospitalares públicas e privadas, com UTIs lotadas, agravadas com os efeitos nefastos de novas variantes do vírus, as tentativas de evitar aglomerações, os desencontros e as incompetências das autoridades, sobretudo federais, na adoção de medidas protetivas da população.

O celerado comportamento do presidente Bolsonaro ainda teria a petulância, como fez no passado, por sua postura negacionista da pandemia, de vir a público e indagar: “E daí?”

A imprensa, instituições internacionais respeitáveis, como a ONU, chefes de governo têm censurado a gravidade da postura irresponsável adotada pelo governo brasileiro e, e aparentemente, o ego autoritário se mostra insensível e arrogante, como se não dependesse dele tomar as atitudes de combate eficazes para, ao menos amenizar, a dor e o sofrimento da população.

O número de brasileiros vacinados é ainda irrisório, pois decisões equivocadas ou ineptas fizeram com que o país continue tendo uma falta imensurável de vacinas, enquanto se perdem vidas como se estivéssemos em uma guerra em que um general peca rotundamente numa logística pífia e incompetente.

É certo que a pandemia, por si só, apresenta desafios descomunais e todo o mundo sofre os seus efeitos e, por isso mesmo, jamais deveria ser tachada como uma “gripezinha” à toa, em relação à qual a realidade dos fatos remove qualquer dúvida. Que falar do tratamento precoce com medicamentos inúteis, como declararam os próprios fabricantes dos produtos, ao defenderem seus usos de acordo com o que estabelecem suas bulas.

Em suma, o povo brasileiro está largado à própria sorte, aterrorizado, sobretudo os familiares que perderam seus entes queridos em mortes extremamente doloridas. Mortes por falta de oxigênio, mortes por falência dos órgãos, morte em filas de espera em hospitais.

Depoimentos de médicos e outros profissionais da saúde, muitos dos quais partiram exatamente por também serem contaminados ou mesmo por exaustão em plantões, testemunham a gravidade diante de um inimigo invisível, oportunista e fatal.

E o povo, pelo menos grande parcela da população, que parece não acreditar que estamos diante de uma pandemia extremamente mortal? Em que se inspiram, ao não usar máscaras faciais, a participar de aglomerações, a não manter a distância recomendada pela ciência, a não adotar hábitos de higiene para evitar tanto transmitir quanto ser contaminar?

Médicos especialistas têm feito declarações públicas pessimistas quanto ao que nos aguarda, talvez um lockdown (suspensão da mobilidade) extremo em todo o país, e não apenas em algumas cidades ou mesmo em estados?

O lockdwon é uma forma de inação que atinge a seiva da árvore econômica, o colapso das atividades produtivas e, por consequência, danos incalculáveis, com a perda de mais empregos, além dos quase 14 milhões já noticiados, exatamente pela paralisação de todo tipo de negócio.

É compreensível que empresários se manifestem contra essa situação, pois não querem ver o declínio de suas atividades, sobretudo quando o governador paulista decide aumentar impostos, exatamente num momento em que cada um tenta manter a cabeça acima do nível das águas e continuar respirando.

No seu ímpeto de cortar despesas, o governador paulista conseguiu se superar ao impor descontos no pagamento dos servidores aposentados, o que inclui uma multidão de professores e outras categorias profissionais, que já se sentiam com a corda no pescoço porque o aumento de preços dos produtos e serviços continua crescente em todos os setores.

Não é à toa que o povo brasileiro está buscando consolo e esperança em Deus, porque o mundo governado por humanos está à deriva. As autoridades estão falidas, assim como a imagem e a crença nas instituições dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Estes não se entendem entre si e vivem um contínuo conflito escandaloso e aberto pela disputa supremacista que se nota diariamente pelo noticiário.

Enquanto isso, nós aguardamos pacientemente a nossa vez de ser vacinados, respeitando a fila que atinge centenas e centenas de quilômetros. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *