PERSONA – A INCRÍVEL HISTÓRIA DOS QUERIDOS IRMÃOS CARLOS E LUIZ RUIVO

Antonio Carlos Vieira Ruivo, Luiz Francisco Vieira Ruivo e Anamaria Vieira Ruivo têm muitas coisas em comum e são personagens de uma história incrível e comovente.

São trigêmeos e nasceram no bairro do Piaí, no município de Ibiúna, em maio de 1946, e completaram 75 anos.

Um fato inesperado e triste iria marcar suas vidas para sempre. Casada com Jonas Vieira Ruivo, a mãe, Delmira Alves Domingues, morreu durante o parto muito difícil que durou três dias. Anamaria nasceu no dia 22, Carlos e Chico, no dia 25. Antes desse acontecimento, d. Delmira tinha cinco filhos.

Esse fato provocou na cidade uma das maiores demonstrações de solidariedade e amor ao próximo em torno dos três recém-nascidos.

Naquela épica, Ibiúna, nem de longe era como atualmente. Sua população era infinitamente menor, o ambiente era pacato, pacifico e as relações entre as pessoas eram de conhecidos cordiais e respeitosas. A palavra violência, como se observa no cotidiano atual, nem fazia parte do dicionário social da cidade. Eram ibiunenses-raiz.

“Pela providência Divina, tivemos a graça de ter nossos pais do coração” [adotivos], afirma Antonio Carlos, revelando, assim como seu irmão, serem “eternamente gratos pela dedicação e amor recebidos” por parte das famílias que os acolheram e os cuidaram a se revelarem as pessoas mais queridas e populares da cidade.

Quando o editor de vitrine online, jornalista Carlos Rossini, resolveu fazer uma chamada para a coluna PERSONA, houve uma intensa reação por parte dos leitores: mais de 2.000 pessoas imediatamente manifestaram carinho, respeito e reconhecimento para os dois professores de artes, já aposentados, que formaram uma legião de alunos orgulhosos dos seus mestres, isso não apenas na região central da cidade, mas também nos bairros do município.

ADOÇÃO & ARTES

Anamaria foi adotada e criada por d. Noir e Dr. Bandeira, único médico que havia em Ibiúna há 75 anos, e logo foram morar em São Paulo; Chiquinho foi cuidado por Francisco Romano e d. Luiza Soares Romano, irmã de Antonio José Soares que, com sua esposa, d. Graciele Felizola Soares, cuidaram de Antonio Carlos.

Antonio Carlos: “Minha madrinha e também mãe de coração, d. Nair Felizola Soares Marcicano, com a qual morei até os meus 51 anos em frente à praça da Matriz, conta que quando eu chorava muito ou não dormia à noite, no outro dia logo já se sabia que o mesmo havia acontecido com Chiquinho. Éramos conhecidos por todos, carregados e passados de mão em mão, até o nosso aniversário de um ano, diz ela que foi feita uma festa animada pela Lira Unense, a banda tradicional da cidade. Acho que vem daí a grande paixão de Chiquinho pela música.” E segue:

“Sempre tivemos muita coisa em comum, estudamos na antiga escola Normal e depois fizemos o curso de Educação Artística em Tatuí, concluindo posteriormente a Licenciatura Plena em Itu.

Ministramos aulas de Educação Artística na rede pública estadual por trinta anos, profissão em que nos aposentamos. Fizemos grandes trabalhos como docentes envolvendo folclore, música, dança, artes cênicas, artes plásticas…fomos sócios de uma floricultura, a Florart’s Gêmeos.”

Embora aposentados, ambos são chamados carinhosamente de professor Carlos e professor Chiquinho.

Luiz revela que o interesse pelas artes surgiu na Escola Estadual “Maria Angerami Scalamandré”, que participou de vários concursos regionais, sendo vitoriosa muitas vezes.

ANDORES DA FESTA DE SÃO SEBASTIÃO

Por mais de 50 anos, os dois irmãos ornamentam os andores da mais tradicional, centenária e maior festa religiosa de Ibiúna: a Festa de São Sebastião, protetor da cidade, e do Divino Espírito Santo, que atrai milhares de devotos do município e de outras cidades paulistas todos os anos. Nos últimos dois anos, por conta da pandemia da Covid-19, as comemorações ficaram restritas a atos religiosos transmitidos via internet e missas presenciais de acordo com as determinações sanitárias.

Antonio Carlos ornamenta o andor de São Sebastião, “legado que recebi da minha mãe, e Chico o andor do Divino Espírito Santo, sempre movidos pela fé e criatividade, transmitindo o dom artístico que Deus nos concedeu”.

Para criar um andor ele leva de dois a quatro meses. Existe um projeto inicial no papel e, posteriormente, a consolidação, sempre com destaque para o vermelho, que é a cor principal representada pelo Santo mártir.

Apaixonado pela arte, Antonio Carlos registra há décadas, por meio de fatos e gravações, fatos e acontecimentos culturais marcantes de Ibiúna.

Luiz Ruivo lembra que, desde criança, acompanhava a família envolvida com a Festa de São Sebastião. Foi aí que se despertou seu interesse em fazer a decoração dos andores, realizado a decoração do Divino Espírito Santo desde 1970.

Sempre idealiza o andor dentro dos significados sacros da imagem do Divino, como, por exemplo, o pão, o cálice, a uva e, junto a eles, estendo a arte na decoração com as cores, as flores e os tecidos

Ele produz o esboço do projeto do andor, verifica a necessidade de que materiais serão necessários, com tipo de tecidos, aviamentos e flores, além dos serviços complementares para a montagem, como ferreiro, eletricista e marceneiro. Cada andor leva em torno de dois meses para ficar pronto.

Quando a festa termina, ele desmonta o andor e entrega os galhos de flores para as pessoas que contribuíram, a fim de que guardem como lembrança do andor do Divino Espírito Santo.

MÚSICA

Chico, desde muito tempo, na condição de professor de Arte, esteve durante anos à frente da fanfarra na Escola Estadual “Maria Angerami Scalamandré”.

Ele não é músico por formação, mas tem ouvido absoluto, o que facilitou o seu desenvolvimento para tocar instrumentos musicais, como piano, sanfona, flauta doce e violão sem conhecer as notas musicais.

Incentivado por amigos, Chiquinho e um grupo de colaboradores formaram uma banda de metais e percussão, que hoje se denomina Orquestra de Metais e Percussão de Ibiúna, sem fins lucrativos, que é mantida com muita dificuldade, ora com a colaboração da comunidade, ora com verba da prefeitura, o que não é constante.

Luiz Ruivo: “Quando eu era professor de artes na escola Scalamandré, fui instrutor de fanfarra dessa escola, atuando quase o mesmo tempo de magistério.

“Em 2006, após a minha aposentadoria, recebi um convite da Associação do Comércio para fundarmos uma nova banda marcial na cidade, denominada Orquestra Jovem de Metais e Percussão de Ibiúna, que conta atualmente com 40 integrantes. Esses integrantes são jovens da comunidade ibiunense.”

Os integrantes da banda recebem o curso de iniciação musical e instrumental gratuitamente, além de utilizarem os instrumentos da banda, tais como: trompete, trompa, sousafone, fluguel, trombone e percussão.

“Atualmente, estou como presidente da Orquestra e conto com o apoio do corpo diretivo da mesma.”

A banda tem como maestro o professor Alexandre Piccirillo e já ganhamos vários prêmios, sendo campeã nos campeonatos de banda marcial nas cidades de São Roque, Santa Rita do Passa Quatro e Santa Isabel e, em 2 ˚ lugar, na cidade de Cotia.

Ambos os irmãos tiveram uma infância em um ambiente saudável. Brincavam na praça da Matriz pulando corda, jogando bola. Na juventude frequentavam bailes da Festa de São Sebastião, baile de aniversário da cidade, carnaval, bailinhos em casa de amigos e festas juninas.

CULTURA E EDUCAÇÃO

Antonio Carlos observa que Ibiúna mudou muito, pois naquele tempo parece que todos se conheciam, tinham um convívio muito saudável. “Penso que o futuro de nossa cidade está nas mãos daqueles que têm um ideal a alcançar. Mesmo desacreditado da política, ainda tenho esperança de que um dia a Cultura e a Educação serão valorizadas como merecem, que Ibiúna seja de fato Estância Turística e faça jus a esse título, mostrando sua beleza natural e que a agricultura receba incentivo e apoio do poder público, uma vez que se destaca como principal atividade econômica. Enfim, sou um ibiunense que ama sua terra e quer vê-la progredir.”

O ESPELHO DA GRATIDÃO

Esta história não estaria completa sem os fatos que você conhecerá a partir de agora.

Da mesma forma como foram adotados, protegidos, cuidados e amados pelos seus pais adotivos, os trigêmeos passaram a cuidar dos seus pais adotivos.

Chico cuidou de sua mãe adotiva até os 99 anos, quando ela morreu.

Carlos diz que, na verdade, teve três mães, d. Delmira, mãe biológica, d. Graciela e d. Nair, que tem 94, duas filhas e o filho adotivo Carlos. Mora na casa em frente à praça da Matriz. É uma pessoa muito querida, como o filho que adotou e educou, dona de um coração imenso e continua recebendo o carinho e o amor de Carlos, que a cuida com desvelo.

Anamaria Vieira Ruivo, passou a viver em São Paulo com os pais do coração (adotivos), o médico dr. Bandeira e d. Noir. D. Noir ficou viúva, depois perdeu seus dois filhos biológicos. Ela foi cuidada até sua morte pela Anamaria, que é fisioterapeuta aposentada.

Os trigêmeos têm mais cinco irmãos biológicos que moram no bairro do Piaí [no sítio, como dizem] e com os quais têm contato, estima e consideração: Antonio Vieira Ruivo, Benedito Vieira Ruivo (in memorian), Bento Vieira Ruivo (in memoriam), Bene Vieira Ruivo, Pedro Vieira Ruivo (in memorian), Honorato Vieira Ruivo. Todos muito queridos pelos trigêmeos. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *