PAPA PEDE AOS PADRES QUE FALEM MENOS NAS MISSAS PORQUE NINGUÉM PRESTA ATENÇÃO

Do alto de Sua Santidade, o papa Francisco fez um apelo aos padres para que falem menos nas missas porque ninguém presta atenção.

A perspicácia do Sumo Pontífice confere com a observação dos profissionais de comunicação em relação  ao mundo secular.

Se enxergarmos por outro ângulo, talvez a questão implicada não seja o tempo, mas formas e conteúdos da comunicação humana que estão em declínio.

Uma nova linguagem está em construção, por conta do novo meio, e estamos na fase intermediária de um novo formato, talvez hiper-rápido.

Apesar de ter sido brindada com uma invenção genial – a Internet – que escancarou as portas da comunicação até mesmo para os mais comuns dos mortais, o que se observa no andamento da carruagem é o notório mau uso desse meio democraticamente espetacular.

Qualquer pessoa pode se fazer ver e ouvir por meio de transmissão de imagens e sons, bastando que tenha um aparelho celular, e isso conferiu uma liberdade singular jamais vista antes na história da humanidade.

Aquilo que é tão caro para o sistema democrático – a pluralidade de opiniões e de pontos de vista – requer uma reflexão amadurecida e objetiva desse fenômeno: sem filtros, pudor e vergonha, há indivíduos que conspurcam o tecido social com toda sorte de sujeira verbal ou imagética.

Não se trata aqui de fazer uma pregação da moralidade pública, porque não é este o espírito dessa reflexão, mas das consequências individuais e sociais que fazem recair dúvidas sobre a integridade de pessoas, além de provocar máculas, infâmias e desonra.

O espaço de comunhão humana possibilitado pela Internet se apresenta como uma tela passiva com imagens encantadoras e maravilhosas de pessoas que compartilham seus prodígios – na música, no canto, na dança, nas descobertas, nas artes e nos ofícios que contribuem para mobilização da espécie humana.

Mas, por outro lado, da mesma forma reproduz a sujeira e a maldade provindas de intenções maldosas, irresponsáveis e inconsequentes, podendo causar extrema dor e sofrimento em suas vítimas incautas.

Mas, voltemos a atitude de Francisco.

Ele está certo! A sociedade de nossos tempos se tornou extremamente superficial. Tudo tem que ser rápido, passageiro, como os lanches fast food. Nota-se um processo de desumanização em larga escala. Nos tornamos descartáveis assim como os produtos que consumimos, entorpecidos pelo desejo de consumo e acúmulo de bens. Até mesmo em nossas mortes, e a quantas estamos assistindo por conta de uma pandemia, tudo precisa ser rápido e asséptico.

É, num sentido amplo, a existência humana que está em xeque com a voracidade e a ganância egóicas e as injustiças que passaram a ser partes integrantes daquilo que os sociólogos chamam de ‘normose’, as coisas que parecem serem normais, mas que estão muito longe do que se poderia chamar de normalidade, considerando o longo curso da história da humanidade.

Em suma, estamos no Terceiro Milênio, em plena pós-modernidade, mas vivendo como se estivéssemos vivendo tempos primitivos em que o ataque ou a fuga eram uma espécie de resumo para decidir no cenário da lei das selvas quem continuaria vivo, milênios antes do que se chamaria mais tarde de civilização.

A questão de poder vem de longe em nossa história. E há quem diga sem nenhum pudor “quem pode mais chora menos”, como se estivesse a salvo de ataques. Uma ilusão que esconde causas profundas de uma cultura que produz comportamentos arrogantes diante do outro, menos poderoso, sobretudo economicamente.

Ignoramos nossa fragilidade diante, por exemplo, de forças descontroladas, como se verifica nos governos, nos desequilíbrios econômicos e nas ações políticas que ignoram ou desprezam seu papel diante da sociedade.

O Papa tem razão.

Parece que não temos tempo de ouvir para compreender, a fim de tornarmos seres humanos melhores, uns em relação aos outros. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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