DISSIMULAR FATOS FAZ PARTE DA NOSSA DECADENTE CULTURA POLÍTICA

É hábito enraizado em nossa cultura política manter o povo desinformado. O pressuposto diz respeito ao fato de que é mais fácil [e divertido] “governar” um povo que ignora os fatos do que pessoas esclarecidas.

Disso decorre que governos municipais, estaduais e federal fazem uso de uma infinidade de artifícios para estabelecer e manter o estado de ignorância, por meio de informações falaciosas, propagandas e promoções que não passam da mais prosaica superficialidade. Ou: não penetram nos assuntos que interessam efetivamente.

Portanto, esconder a “sujidade” da opinião pública faz parte do repertório comumente usado pelas chamadas autoridades. Não se pretende aqui referir uma espécie de teoria conspiratória de que existe do lado pessoas em funções públicas e de outro uma população incauta e sujeita a todo tipo de manobra ilusória.

Não. As estruturas governamentais contam com pessoas que também vivem dentro da redoma da desinformação programada, pois ainda que testemunhem fatos reprováveis ética e moralmente ou mesmo improbidades, sabem que a regra de ouro é calar e manter-se dentro dos limites da discrição funcional presumida.

Abrir o bico e ser descoberto por isso é lançar-se na arena dos leões e quem, numa situação econômica arrasadoramente perversa, se candidata a ser um quixote a avançar contra moinhos de vento e da perdição, e, por consequência, amargar os tormentos do desemprego?

Depois, por que criar pelos em ovos, quando sabemos o que aconteceu com Jesus Cristo e figuras heroicas que, mais uma vez, por ignorância generalizada foram abandonados à própria sorte porque, como diz a sabedoria popular, “a corda sempre rebenta do lado mais fraco”. O medo contamina como um vírus.

E, se não bastasse isso, computam-se milhões de indivíduos vivendo abaixo da linha da pobreza, na miséria brutal, outros tantos milhões de desempregados e muitos pedindo um pedaço de osso tenuamente encarnado para garantir ao menos refeições que cientificamente levam à desnutrição e toda sorte de doenças desse fato decorrentes.

Sim, como se diz o submundo verbal, quem tem, tem medo, mas quem não tem também tem medo e assim se consagra uma sociedade enferma que gera personalidades doentias, inseguras e que nem conseguem saber que estão vivas e tampouco o que são. Pessoas vazias e atormentadas que andam nas ruas como zumbis temerosos da luz.

Vivemos, infelizmente, tempos em que nem mais chegamos a sentir vergonha pelos nossos atos, simplesmente porque, na verdade, não são nossos atos, mas sim reflexos do caos moral, político, econômico, social  em que estamos imersos.

Quando vemos um caríssimo Porsche estacionado em frente a um edifício público, podemos estar certos: o assunto que está sendo tratado é pouco provável que se trate de interesse da população. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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