PERSONA – GUSTAVO ELIAS E A TRANSFORMAÇÃO DE SENTIMENTOS EM IMAGENS

O jovem Gustavo Elias conta uma história de conhecimentos pouco comuns para alguém com vinte anos. Ele demonstra, ao mesmo tempo, uma abrangência existencial mística, infinita e profunda e não é difícil imaginar que parece destinado a fazer notáveis revelações ao mundo. Seu corpo está marcado com palavras sagradas e transcendentais. Ele sugere, depreende-se de suas palavras, a possibilidade da existência de alquimistas da nova era. Leia essa história e se surpreenda como nós que tivemos o privilégio de conhecê-lo um pouco mais. Ele está de malas prontas para uma nova viagem. Vai para Portugal, lugar estratégico que lhe abrirá as portas para uma imersão no Velho Continente. Obrigado, Gustavo Elias, por participar do projeto PERSONAGENS IBIUNENSES idealizado por vitrine online.

Qual o seu nome completo?

Gustavo Elias Miranda

Onde e quando você nasceu?

Sorocaba, 18 de Julho de 1991

Fale um pouco de seus pais, enfim de sua família.

A história da minha família faz parte da história de Ibiuna. Meus avós por parte de mãe viveram a vida toda aqui, a família do meu avô senhor Wadih veio do Líbano na época da guerra e ele cresceu aqui, e a família da minha avó veio de Sorocaba e ela também cresceu aqui, meu avô foi comerciante local e o primeiro distribuidor de adubo com uma loja na rua 15, e minha avó foi professora a vida toda e inclusive professora de alguns antigos prefeitos. Minha mãe também se tornou professora e cresceu a vida toda aqui. Meus pais se separaram quando eu e minha irmã éramos crianças, a família do meu pai também é boa parte daqui. Depois minha mãe ficou com meu padrasto que nos criou e nos acompanhou a maior parte da nossa vida, meu padrasto também nasceu e cresceu em Ibiúna, e trabalhou boa parte da vida na cooperativa e na Nissin. Meus tios, primos, e a maior parte da minha família são daqui e como pode perceber fazem parte da história de Ibiúna, a maior parte deles inclusive ainda vive em Ibiúna e tem presença no comércio local.
 
Quais as lembranças que tem da cidade na sua infância, adolescência e agora?

Tenho poucas porém boas lembranças da minha infância, lembro da casa da minha vó, de brincar na rua de taco, esconde-esconde, bicicleta, teatro, lembro de fazer natação e jogar futebol no Guarani e no Centro Olímpico ao mesmo tempo, lembro de ir na locadora da Regina e alugar filmes toda semana, lembro na minha adolescência de convidar meus amigos para jogar videogame e ir na casa deles, quando começou a surgir os games. Lembro da época do colégio que toda a galera da escola que curtia games se reunia na tribo uma antiga lan house quando a internet e os jogos em rede estavam começando a se popularizar. Os tempos e os valores eram outros, a gente se divertia com a simplicidade e a tecnologia ainda estava começando a surgir, a infância de quem viveu antes dos anos 2000 é muito diferente das dos jovens de hoje em dia. Nos meus anos posteriores sai um pouco de Ibiúna, morei em São Paulo algumas vezes, estudei em Sorocaba, mas sempre acabei voltando por conta da família e de outros fatores sociais e financeiros. Enfim sempre guardarei boas lembranças por toda minha vida de Ibiúna e todas as coisas boas que vivi aqui…  

Quem é Gustavo Elias?

Gustavo Elias é um garoto muito legal e simpático, um cara família e ao mesmo tempo cheio de amigos, um ser místico e singular, um poeta e um nômade, um artista e também um cara comum. É difícil se definir sem pensar no fato de termos várias facetas, épocas e sentimentos na nossa personalidade e no nosso ser. Quem eu sou? Quem é o homem? Porque existo? O que é o belo? Se nem Sócrates sabia, imagina eu… Se eu for falar sobre sobre mim, eu conseguiria dissertar uma narração com uma história linda cheia de altos e baixos, e eu penso em transformar as várias faces do meu ser em alguns livros divididos em vários textos, histórias, fases e sentimentos… Mas tudo no tempo certo.

Como você se tornou fotógrafo, videomaker?

Acredito que a inspiração para isso vem desde a minha infância quando já observava meu pai e minhas tias fotografando e fazendo registros de vários momentos especiais e transformando eles em imagens atemporais, fotografias que têm muito valor para mim até os dias de hoje. Foi uma arte que me fascinou desde sempre e quando entrei na adolescência já comecei a fazer registros com as primeiras câmeras digitais fotografando paisagens e a natureza e vídeos no primeiro editor que existiu para Windows: o movie maker. Eu não gostava muito das matérias tradicionais da escola, mas minha professora de história dava liberdade para eu fazer o trabalho de história como quisesse e então fazia vídeos sobre as histórias e o contexto que estava estudando para as apresentações, isso me estimulava a estudar mais, porque sempre gostei da ideia de contar histórias sob a perspectiva do olhar audiovisual. Isso tudo também acontecia por conta do meu fascínio por filmes, séries, desenhos, televisão e tudo que é conteúdo audiovisual que consumia muito desde criança. Acredito que me tornei criador por conta dessa vontade de transformar os meus sentimentos em imagens e contar histórias do ponto de vista particular do meu ser, pois sempre fui fascinado por elas… Depois resolvi estudar audiovisual e cinema na faculdade e assim fui me tornando o que sempre quis ser, um fotógrafo e videomaker que cada dia busca mais e mais formas de transformar amor em arte audiovisual e arte em amor audiovisual…

Qual é sua profissão e experiência profissional?

Minha profissão é uma mistura de artista com peão em uma metamorfose constante, não me considero somente fotógrafo ou videomaker, nem produtor ou recreador, independente das últimas funções que exerci me vejo como um profissional de múltiplas facetas em uma constante evolução. Admiro quem escolhe uma profissão e segue ela à risca a vida toda, mas eu gosto da ideia de ser um pouco de tudo e nada ao mesmo tempo. Minha experiência profissional começa logo quando era adolescente em 2008, como empacotador do supermercado Ibiúna. Durante a faculdade de 2010 a 2011 fui estagiário na Amazon e na Secretaria de Cultura na Prefeitura de Ibiúna, onde criei o primeiro workshop de produção de vídeo que teve na cidade. Nos anos posteriores de 2012 a 2013 trabalhei como garçom e auxiliar de cozinha no restaurante Piratas. E de 2014 a 2017 trabalhei na TV Planeta Azul, na TV Ibiúna, e com a Produtora Oficial, todos voltados para produção de vídeo e conteúdo audiovisual em Ibiúna. De 2015 a 2018 trabalhei no Rockets como fotógrafo residente dos eventos e dos torneios de poker. De 2018 a 2021 trabalhei na rede Clara Resorts como recreador, produtor de atividades e fotógrafo residente. Durante todos esses anos também trabalhei como fotógrafo freelance para os mais diversos eventos e atividades na cidade.

Como você se tornou um cabalista e qual a razão dos sinais em seu rosto?

Gustavo Elias: uma história surpreendente

Ninguém se torna um cabalista, todos somos cabalistas. Cabala vem da palavra hebraica que significa receber e todos nós somos receptores. Receptores do quê? Da luz do criador. A cabala nada mais é do que um método de estudo de um conhecimento místico que se baseia nos princípios da Torá, da Bíblia e do judaísmo. Então pode se dizer sim que um cabalista é um estudante de cabala, mas de certa forma todos nós somos cabalistas e filhos do mesmo criador, podendo ter acesso a esse conhecimento oculto e místico, basta apenas querer. Os sinais do meu rosto são letras hebraicas e elas estão por todo o meu corpo, eu tatuei o alfabeto hebraico porque tem um livro da cabala chamado Sefer Ietsera que é o livro da criação e neste livro diz que Deus criou o homem utilizando as letras sagradas deste alfabeto que era o antigo aramaico, por conta disso cada letra corresponde a um órgão e eu tatuei as letras nos lugares correspondentes aos órgãos. Foi uma viagem de autoconhecimento na qual estava passando e decidi deixar marcado em minha pele, faz parte da minha visão do mundo e da maneira como eu me vejo como um ser místico e espiritual.

Você parece manter um relacionamento familiar muito bonito?

Dou muito valor a minha família! Família é a base de tudo, e para mim não tem nada mais importante do que essa relação de cuidado, amor e carinho por nossos pais, irmãos, tios, primos, avós, e todos aqueles que nos apoiam e fazem parte da nossa vida, sejam eles familiares de sangue ou só pessoas que nós consideramos como família. Família é a nossa força e a nossa história e acho muito importante darmos valor a essa relação. Não tenho filhos e no momento não penso em ter filhos, estou focado na minha vida profissional e pessoal.  

É bem legal a alegria, o bom-humor e a descontração em suas postagens no Instagram. 

Agradeço de coração o feedback, faço tudo com muito amor e carinho. Passei por várias fases junto com as redes sociais, tive páginas no facebook e no antigo Orkut, publiquei vídeos no Youtube desde o começo da plataforma, e hoje em dia sou bastante ativo no Instagram e começando a construir um canal no Tiktok. Gosto muito de expor minhas opiniões e minha visão do mundo de diversas formas audiovisuais e através das redes sociais encontro muitas formas de fazer isso e ser ativo na comunidade tentando sempre ajudar todos aqueles que também tem interesse nessa área e gostam do meu trabalho. Obrigado por me acompanhar!

O que você acha do mundo?

Eu acho que o mundo anda muito instável ultimamente e conseguimos ver as transformações ocorrendo a todo momento em diversos lugares através de diversos meios de comunicação. O capitalismo e a globalização nos trouxeram muitos avanços, mas até que ponto? Em alguns lugares há pessoas sofrendo muito e há outros lugares um tanto hostis, inóspitos e onde está toda a riqueza e abundância da nossa natureza? O poder está concentrado na mão de poucos homens enquanto muitos vivem com o mínimo, ninguém consegue negar o fato de vivermos em um mundo cheio de injustiças…. Mas eu tenho fé e creio que dias melhores virão, mas teremos que passar por muitos provações e dificuldades até lá, então tento ajudar sempre que possível o próximo e tento construir um mundo melhor para mim e para todos ao meu redor, se todos nós passarmos a pensar mais no coletivo podemos talvez ainda viver em dias mais justos e iguais e termos paz antes do nosso planeta se tornar inabitável…

E de você?

De mim, eu me vejo de muitas formas; sou um ser que está em evolução e numa constante transmutação na busca por um amadurecimento real e verdadeiro. Eu sou como qualquer ser humano, erro, caio, levanto, aprendo, fico fraco e depois fico forte, venço a vida e a morte! Não estou para trás e nem para frente, estou onde deveria estar no tempo que me foi dado num planejamento do Eterno que me permitiu ser criado. Sou novo e sou velho, sou tecnológico e sou conservador, sou o poeta que disserta um texto, e o aluno que erra alguns pontos do alfabeto e transforma em brincadeira linguística. Me acho, me sinto, mas não sou nada além daquilo que deveria ser, nem mais, nem menos, apenas mais um, como outro qualquer, que se permite ser aquilo que nasceu para ser. O espectador e o artista. Me vejo assim, como já disse; um pouco de tudo e de nada! É isso que eu acho de mim…  

O que precisaria ser melhorado em Ibiúna?

Muitas coisas precisam ser melhoradas em Ibiúna, desde a infraestrutura da cidade até o planejamento para os próximos anos. Eu não sou expert, embora me interesse um pouco em tentar contribuir pelo menos na minha área de atuação, mas acho que falta muita organização para a cidade crescer mais como outras cidades modelos que também são estâncias turísticas. Acredito que estamos tendo mudanças, mas a passos lentos e amarrados pelos nós da corrupção que assolou nosso município a assola todo nosso País e a nação. Nesses últimos anos em que atuei em nossa cidade e vivi aqui pude notar pouquíssimas mudanças e muitos projetos inacabados e ideias boas, mas que infelizmente nunca saíram do papel. Enfim, pelo menos agora pós-pandemia já podemos ver vários novos empreendimentos e uma expansão para o setor cultural e social e mais lugares para os jovens desfrutarem de nossa cidade e os turistas começarem a fortalecer mais a economia local. Espero sinceramente que Ibiúna melhore nos próximos anos, mas temo que a política e o sistema político que exista no Brasil nos deixe estagnados por mais dez ou vinte anos, com inflação cada vez mais alta e salários cada vez mais baixos nos fazendo sobreviver cada vez com menos possibilidades de crescimento…

O que sente falta em nossa cidade?

Pode parecer surreal eu falar isso mas o que acho que talvez mais sinto falta em Ibiúna é a união. Sim, união. As pessoas e os grupos sociais se reunirem como antigamente. Os jovens voltarem a se unir nas festas, nos bares, nas baladas, nos clubes. Os artistas se reunirem nos eventos culturais e expressarem suas ideias. Os políticos se unirem ao povo e buscarem andar pelos bairros e ver o que realmente as pessoas precisam. As crianças se unirem nos parquinhos e nas praças e brincarem juntas. Os pontos turísticos voltarem a ser pontos de união dos turistas com a nossa beleza local. As escolas voltarem a ser lugares de união dos estudantes, professores e colaboradores que desejam estar sempre aprendendo. Não sei se isso é efeito da pandemia e de todo esse tempo que ficamos em casa, ou também um sentimento que venho reparando nos últimos anos porque estive em outros lugares longe daqui e me uni com tantas pessoas que me proporcionaram tantos aprendizados, mas aqui às vezes sinto que falta muito esse sentimento de união e comunhão com o próximo. Não é uma crítica, mas sim um desabafo, porque cresci aqui, quase todos meus melhores amigos dos últimos anos são também daqui, e dou muito valor para nós e nosso povo, afinal sou um morador de Ibiúna. Ibiúna é o lar de tantos templos, tantas religiões, tantas escolas, Igrejas, esportes, turismo, paisagens e belezas únicas, gostaria que pudéssemos dar mais valor a tudo isso e desfrutar com mais amor tudo que nossa cidade tem para nos oferecer.

 
Você já produziu filmes, vídeo que destacaria?

Eu tive a oportunidade de trabalhar em algumas produções com diretores renomados do cinema brasileiro durante os anos que estudava Cinema em São Paulo, fazendo curtas-metragens que inclusive participaram de festivais de cinema e de mostras. Mas os vídeos que acho legal mencionar principalmente no âmbito de Ibiúna foram as produções que fiz com o Danilo Broll e o Bruno Siqueira como documentários da festa de São Sebastião, documentários sobre a produção de verduras, entre outros programas e vídeos bem legais que produzimos no decorrer de alguns anos. Ano passado também fui um dos idealizadores do Debate para Prefeitos de Ibiúna e o principal diretor de câmera, uma produção em conjunto da TV Ibiúna do Bruno Siqueira e o Jornal Voz de Ibiúna, foi um trabalho bem importante principalmente por ter ocorrido durante a pandemia e graças ao apoio de muitos comerciantes locais, aos quais eu agradeço, pudemos realizar o debate e transmiti-lo ao vivo pelas redes sociais no mesmo formato que havíamos feito nas últimas eleições. Nos últimos meses optei por fazer vídeos no Tiktok e Instagram numa linguagem mais atual seguindo as novas tendências e agora pretendo começar a estrutura um novo canal no Youtube além de outros canais no TikTok e também outras páginas no Instagram. Eu sei, é muita coisa, mas vou fazendo tudo aos pouquinhos e produzindo conteúdo audiovisual com temas variados e para diferentes tipos de público, sempre buscando transmitir minha visão e o meu sentimento. Sempre tudo com muito amor e dedicação.

Você foi para a Inglaterra, o que foi fazer por lá?

Sim, muito importante você comentar isso, fui para Inglaterra para estudar Inglês no começo de 2020 antes da pandemia estourar, meu objetivo com a viagem era aperfeiçoar o máximo o meu Inglês e também começar a construir uma carreira internacional. Lá tive muitas oportunidades, inclusive participei de uma competição de fotografia e venci com uma foto que fiz em uma viagem na Escócia e ganhei outra viagem para o País de Gales. Minha viagem seria mais longa, tinha intenção de viajar a Europa e fotografar muitos países, mas acabei tendo que voltar antecipadamente por conta da pandemia. Agora vou voltar para lá, pretendo estudar e trabalhar nos meus projetos digitais, daqui a três dias estou indo para Portugal e vou me estabelecer por lá e viajar a Europa como planejava anteriormente. Se deseja acompanhar mais das minhas viagens é só ficar de olho nas minhas redes sociais, estou sempre atualizando e compartilhando todas as novidades!

O que acha importante dizer e que não consegui provocar com as minhas perguntas?

Primeiramente gostaria de agradecer pela oportunidade dessa entrevista, foi a primeira vez que recebi esse convite de um jornal local por isso fiquei muito lisonjeado e grato por poder expressar minhas palavras, ideias e sentimentos. Foram meses para responder, peço desculpas pois como pode ver ando trabalhando em muitos projetos, livros, vídeos, cursos, intercâmbios, viagens, e tudo isso dá muito trabalho… E também gostaria de responder todas suas perguntas com carinho e atenção, afinal é um registro que ficará eternamente nas lembranças de Ibiúna e por isso tem um valor muito especial. Espero que tenha conseguido me abrir de maneira honesta com todas as palavras que usei nessa entrevista e que todos que a lerem possam conhecer um pouco mais sobre mim e minha história! Muito obrigado mesmo pela oportunidade e parabéns por estar sempre realizando um trabalho jornalístico e social importante para a memória cultural e histórica da nossa cidade. Qualquer dúvida, informação, ou opinião estou sempre à disposição, basta enviar uma mensagem que assim que possível estarei respondendo a todos. Obrigado por você que leu até aqui! Nos vemos por aí e uma linda vida para ti! Com amor e carinho, Gustavo Elias.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *