Quem diria? Lei das redes sociais poderá se chamar “Lei Felca”

Felipe Bressanim Pereira, 27, 1,97m de altura, natural do Paraná, poderá ter seu apelido ou nome artístico no batismo da lei que, por sua notável influência, regerá as regras das redes sociais no Brasil.

Até pouco dias atrás, talvez como outros brasileiros,  por etarismo, em muitos casos, jamais ouvira falar desse jovem natural de Londrina.

De repente, de um modo sereno e objetivo, ao lançar um vídeo denunciando a adultização de crianças, ou exploração sexual de menores por pedófilos, sacudiu a consciência moral da população para um crime hediondo que navega na superfície de pântanos tenebrosos.

Não demorou para que seu trabalho atingisse cerca de 30 milhões de visualizações nas redes sociais, que despertaram a grande mídia televisiva em canais abertos para entrevistas de grande impacto na sociedade.

Tornou-se um fenômeno como influenciador, depois de permanecer fechado em sua casa por um ano (apenas teria saído quatro dias) período em que investigou meticulosamente o “submundo” da internet que explora a erotização infantil.

“LEI FELCA”

O impacto de sua iniciativa foi tão convincente sobre os crimes perpetrados contra as crianças no Brasil que a Mesa da Câmara dos Deputados em Brasília já recebeu ao menos 8 projetos de lei que tratam da exploração de menores de idade na Internet.

Ao analisar o comportamento de Felca [ele faz a ressalva que também não o conhecia], o filósofo Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação, professor de filosofia, cientista político e colunista brasileiro, observou que Felca “fala manso, sem agressividade, fala de moral, não de política”.

“Tem foco, não dispersa, entra na religião, como quando diz que a única pessoa com quem concorda é Jesus Cristo, mas diz isso sem hostilidade a outras fés ou ausência de.”

Sem exibir polarização, ou seja sem valores da esquerda ou da direita, adverte Ribeiro, “acho ótima a ideia de chamar a lei das redes sociais de Lei Felca”.

É preciso pontuar que depois da espetacular repercussão do vídeo, Felca denunciou ter recebido ameaças de pedófilos (“você vai morrer!). Ele entrou com uma ação e a Justiça determinou que o Google abra o sigilo das ameaças, o que possibilitará chegar às suas origens.

FELCA

Felca é um youtuber (**), um influenciador digital. Começou ainda criança a fuçar as redes sociais, mas se diz grato ao pai por tê-lo feito parar e preservar a sua própria imagem ainda jovem.

No passado chegou a receber R$ 31 mil com vídeos no TikTok ao denunciar casos de adultização, montante que doou para instituições de caridade.

Autista e portador de fobia social, ele iniciou sua carreira como streamer (*), produzindo vídeos de jogos eletrônicos digitais e vídeos humorísticos principalmente em tom autodepreciativo.

Um dos seus desafios, doravante, é lidar com o fato de ter se tornado uma celebridade, numa sociedade que não é doente apenas na questão da violência e da exploração sexual de crianças,  mas também na miséria que assola toda a sociedade, com graves problemas nas áreas da pobreza, emprego, saúde, educação e segurança pública.

Talvez não seja exagero considerar uma frase relacionada ao tema específico que ele está tratando, mas, entendemos, poder representar um significado mais amplo: ‘A causa é maior do que eu.’

Atualmente, ele vive na cidade de São Paulo para onde se mudou.

De resto, aqui vai nossa gratidão por sua ousadia, coragem e firmeza de tomar uma atitude surpreendente, que surge de tempos em tempos na comunidade, como um sinal vermelho. E revelam o quanto somos carentes de autoridades capazes e responsáveis. (Carlos Rossini é diretor da TVNA e editor de vitrine online)

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(*) Streamer (flâmula, bandeirola, em inglês) é o profissional que transmite conteúdos ao vivo, sejam jogos eletrônicos, programações esportivas, análises e reações.

(**) Youtuber (sem tradução para o português) é um criador de conteúdos que usa as plataformas do Youtube para compartilhar vídeos com a sua comunidade. Alguns atuam como profissionais.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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