ARTIGO – CASO FUJIMORI LEMBRA QUE NENHUM PODER É PARA SEMPRE
Na última terça-feira (4), o ex-presidente e ditador peruano Alberto Fujimori, 75, condenado a vinte e cinco anos de prisão por corrupção, enriquecimento ilícito, evasão de divisas e genocídio, não suportou uma súbita e perigosa crise hipertensiva (pressão alta) e teve que ser levado imediatamente para um hospital. Fujimori participava de uma audiência pública do julgamento em que é acusado de usar recursos públicos para comprar a linha editorial de jornais sensacionalistas, durante a campanha em que pretendia se reeleger no ano 2000.
A imagem de Fujimori distribuída pelas agências de notícias internacionais mostram um homem alquebrado, envelhecido, dobrado, rosto amargurado, sucumbido. Impressão muito diferente de quando ostentava a faixa presidencial [foi presidente do Peru de 1990 a 2000], empertigado, corpo ereto, cabeça erguida, movimentando-se com desenvoltura e de modo objetivo como convém, aparentemente, aos poderosos.
Sua figura estampada em fotos na Internet sugere que, enfim, a biologia é um poder muito mais elevado do que o mais poderoso dos políticos e ratifica a verdade inexorável e universal de que nenhum poder dura para sempre. Isso se verifica tanto na trajetória dos impérios [persa, bizantino, romano, etc.] quanto de indivíduos que encarnam o poder como se este os tornassem imortais e absolutos. Não é isso o que acontece. Os brutos também ficam doentes e morrem.
Buda deixou um ensinamento, fruto de suas peregrinações pelo mundo. Chamou-o de as quatro verdades nobres: a pobreza, a velhice, a doença e a morte. Uma observação já consagrada em livros de psicologia aponta que exatamente para estar acima dessa prisão existencial, alguns homens buscam, através da aquisição de poderes descomunais, transcender a essas verdades – sendo insaciáveis na acumulação de riqueza e de obediência aos seus desejos.
Vejamos alguns exemplos. Hitler que iniciou a II Guerra Mundial, depois de ter exercido as funções mais elevadas no Partido Nacional dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazista) e virar ditador, levou à morte entre cinquenta e setenta milhões de pessoas. Quando os Aliados venceram, enfim, a guerra, ele se suicidou em 30 de abril de 1945. Pôs fim à existência biológica de um exemplar da raça superior.
Na Itália, um dos seus principais Aliados, o ditador Mussolini, fundador do fascismo [uma forma radical de política autoritária nacionalista], conhecido como Il Duce foi fuzilado no dia 24 de abril de 1945 por guerrilheiros italianos e pendurado de cabeça para baixo perto de uma refinaria para ser exposto e ser confirmada sua morte. Seu poder, assim como o de Hitler, era simplesmente assombroso.
No Paraguai tivemos outro ditador, o general Stroesner, que permaneceu no poder de 1954 a 1989. Morreu em Brasília em 2006, onde se encontrava exilado. Na Argentina, uma ditadura militar manchou de sangue, covardia e tristeza a história desse País vizinho. Muitos foram torturados, mortos e desapareceram. As Mães da Praça de Maio ficaram conhecidas no mundo todo por seus lenços na cabeça e caminhar na praça à espera de notícias dos seus filhos mortos. No Chile, sob o general Pinochet, de triste figura, as violências não foram menos cruéis com o povo e o assassinato do então presidente Salvador Allende no Palácio do Governo atacado por canhões. Uma degeneração biológica, pela velhice, também pôs fim a Pinochet.
Stálin [significa “homem de aço”), que foi secretário do Partido Comunista, depois de assumir o poder na Rússia em 1920, impôs de forma trágica seus planos econômicos sobre a população, matando milhões de pessoas de fome ou mesmo cometendo assassinatos, para evitar a mínima possibilidade de perder o centro do poder. Morreu em 1953 vítima de um derrame cerebral.
Há outros exemplos de poderosos investidos de uma prerrogativa absurda que atende pelo nome de ditadores, alguns extremamente sanguinários. O terrível Somoza, ditador da Nicarágua, acabou morrendo no exílio no Paraguai. Foi morto dentro de uma Mercedes por um tiro de bazuca em setembro de 1980.
No Haiti, a ditadura de François Duvalier, o Papa Doc, e, depois, do seu filho Jean Claude, foi extremamente cruel com o povo. Na época em que mandavam plenamente, como talvez, Sadam Hussein, com direito sobre a vida e a morte das pessoas comuns. Todos, felizmente, são páginas viradas da história. Mas não se pode negar que a democracia, como grande promessa do melhor regime político para a humanidade, ainda está longe do que deveria ser, sobretudo na maior parte do mundo que ainda não chegou aos andares superiores onde os condôminos são ou vivem como príncipes.
No Brasil, não se pode deixar de registrar duas ditaduras, uma de Getúlio Vargas que, pressionado a deixar o cargo, suicidou-se em 1954, e a ditadura militar que durou vinte anos, contados a partir de 1964. E aqui também as páginas da história são marcadas de sofrimento, dor e tristeza pelos mortos e desaparecidos.
Carlos Rossini é editor
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