CONSCIÊNCIA NEGRA É UMA REFLEXÃO PARA TODOS PRATICAREM CONTRA O PRECONCEITO RACIAL

PalmaresO Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado no 20 de novembro em mais de mil cidades brasileiras, em homenagem a Zumbi, o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, o maior quilombo* do período colonial brasileiro. É o dia em que ele morreu em combate no ano de 1695, há exatos 320 anos, na então capitania de Pernambuco.  E a data de um momento de reflexão para que se ponha um fim ao preconceito racial que acompanha a vida dos negros desde que foram trazidos da África, na condição de escravos.  A primeira leva de navio negreiro desembarcou no Brasil em 1549.

A comemoração da data foi criada em 2003 em âmbito nacional por meio da Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, sendo feriado em estados e nos municípios, quando se realizam atos culturais, shows artísticos, entre outras manifestações de natureza pública.

Há entidades, como o Movimento Negro, considerado o maior do gênero no país, que promovem palestras e eventos educativos, tendo como o objetivo principal principalmente crianças negras. O movimento procura impedir evitar o desenvolvimento do autopreconceito e o sentimento de inferioridade perante a sociedade.

A HISTÓRIA

Quilombo dos Palmares, localizado na Capitania de Pernambuco, atualmente região de União dos PalmaresAlagoas, era um reino formado por escravos negros que haviam escapado das fazendas, prisões e senzalas brasileiras. Ocupava uma equivalente ao território de Portugal e contava com uma população de cerca de trinta mil pessoas.

Zumbi* nasceu livre em 1655 na Serra da Barriga, Capitania de Pernambuco, atual União dos Palmares, Alagoas, mas foi capturado e entregue a um missionário português quando tinha seis anos. Batizado ‘Francisco’, Zumbi recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim, e ajudava diariamente na celebração da missa.

Em torno de 1678, o governador da Capitania de Pernambuco, cansado do longo conflito com o Quilombo de Palmares, se aproximou do líder de Palmares, Ganga Zumba, com uma oferta de paz. Todos os escravos fugidos seriam libertados se se submetesse à autoridade da Coroa Portuguesa. A oferta foi aceita pelo líder, mas Zumbi a rejeitou e desafiou a liderança de Ganga Zumba e prometeu continuar a resistência contra a opressão portuguesa, tornando-se Zumbi líder do quilombo de Palmares.

INVASÃO E MORTE

Quinze anos depois de Zumbi ter assumido a liderança do quilombo, o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho foi chamado para organizar a invasão do quilombo. No dia 6 de fevereiro de 1694, Palmares foi destruída e Zumbi ferido. Sobreviveu mas sendo traído por António Soares, e foi surpreendido pelo capitão Furtado de Mendonça em seu reduto (talvez a Serra Dois Irmãos).

Apunhalado, resiste, mas é morto com vinte guerreiros quase dois anos após a batalha, em 20 de novembro de 1695. Teve a cabeça cortada, salgada e levada ao governador Melo de Castro. No Recife, a cabeça foi exposta em praça pública no Pátio do Carmo, visando desmentir a crença da população sobre a lenda da imortalidade de Zumbi.

Em 14 de março de 1696 o governador de São Paulo, Caetano de Melo de Castro escreveu ao Rei: “Determinei que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público desta praça, para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal, para que entendessem que esta empresa acabava de todo com os Palmares.”

O QUE SIGNIFICA

*Quilombo – local escondido, geralmente no mato, onde se abrigavam os escravos fugidos; povoação fortificada de negros fugidos do cativeiro, dotada de divisões e organização interna (aí também se açoitavam índios e eventualmente brancos socialmente desprivilegiados).

*Zumbi – Zumbi ou Zambi vem de Zumbe, de origem africana, e significa espectro, fantasma, alma de pessoa falecida.

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.