O VELHO DO CAJADO SAGRADO REFLETE SOBRE JESUS, EM SEU 2021º ANIVERSÁRIO

Depois de muitos meses desaparecido, o Velho do Cajado Sagrado reaparece e dita a mensagem que descrevo abaixo sem nenhum retoque. Desta vez ele não conversou comigo, apenas me ouviu dizer que amo e respeito as pessoas em suas crenças e que me solidarizo com todas elas, não importa quem seja, pois cada qual tem sua maneira de ser. Ainda tive tempo de dizer que vou comemorar o nascimento de Jesus em silêncio reverencial, pois acredito ser essa uma das maneiras mais sensatas de recordar as lições que Ele nos ensinou. E o Velho comentou: “Faz muito bem!”, o que me tranquilizou (C.R.). Eis então a mensagem do Velho do Cajado Sagrado:

“Pois é! Celebramos logo mais o nascimento de um homem nascido há 2021 anos. Desconheço alguém que tenha sido comemorado além de uma geração após a sua. Nem mesmo me lembro do meu bisavô! Para trás ainda mais no tempo, então, minha ignorância é completa. A linha do tempo escapa de nossa memória e nos devemos dar por satisfeitos se nos lembrarmos quem somos, sobretudo depois de uma certa idade mais avançada. Nossa memória sobrecarregada vai se apagando de tantas histórias, fatos, rostos, nos cansamos das dores afetivas que temos em conta, porque até mesmo os cenários onde vivemos se transformam, novas construções, ruas e avenidas, quer queiramos ou não. Nossa vontade tem o alcance curto para os nossos braços demasiadamente humanos. Lembro-me do bairro onde nasci e cresci e dos personagens que foram aparecendo, surgidos de suas casas de um bairro operário e que, mais tarde, já não mais via nas ruas, no armazém e na padaria. Hoje a maioria absoluta deles, talvez todos, já não mais existem. Por mais que force minha memória, salvo um ou outro, por ter traços peculiares marcantes aos olhos de um menino, é difícil me lembrar dos contemporâneos dos meus pais, que dirá dos meus avós, dois dos quais nem cheguei a conhecer. Agora há pouco tive um sonho em que me encontrava numa cidade, mais exatamente num lugar em que havia uma multidão participando de um churrasco, mas que desaparecera, pois o lugar se encontrava ermo. Senti um desejo incontrolável de botar uma música no volume máximo na caixa de som e tocar todas as pessoas que, talvez, se encontrassem dormindo ou anestesiadas. Nesse momento minha solidão era extrema, mas, sabe-se lá o que dirige nossos sonhos, surgiu uma mulher miúda, preta, silenciosa e ficou ali, perto de mim. Que bom, você agora será a minha companhia e poderemos conversar! Nesse momento exato senti que esse sonho era na verdade um arauto dos meus sentimentos mais profundos e imagino que pode fazer parte de muitas pessoas, quando viajam para o estrangeiro. Disse-me, então, o sonho: permaneça em silêncio durante todo este dia, porque talvez seja a melhor forma de celebrar o natalício de 25 de dezembro de um Homem que foi torturado e morreu na cruz. Droga, por que torturado, por que na cruz, este símbolo tão profundo e onipresente? O que terá feito que chamou para si tanto ódio mortal? Daquela gente, de magistrados que lavaram as mãos, do povaréu, de omissos e assistentes passivos, não resta nem mesmo pó ao qual todos retornaram. 2021 anos é longo tempo! Há questionamento, irrelevante para todos os efeitos, quanto a data certa de seu nascimento em Belém, por conta de diferentes contagens do tempo e até mesmo da ignorância que temos entre a cronologia objetiva e da subjetiva, conhecida entre os gregos por Kairós. Aquele homem e, aí, talvez se justifique nossa celebração emocionada, quis despertar a Humanidade e torná-la simplesmente humana, pelo derramamento de amor de uns aos outros. Sacudiu o mundo ao seu redor ensinando a arte da boa convivência. Terá feito um esforço infinito porque deveria estar decepcionado com os péssimos costumes que degradavam e marginalizavam muitos seres a condições de desprezo inaceitável ante os Olhos do Seu Pai e Mestre Supremo. Deus é pai de todos os homens e de tudo o que existe, mas não tem controle, e nem sei por quê, sobre suas condutas. Esse mundo dos homens mantém, passados mais de dois mil anos, os mesmos pecados uns contra os outros, com injustiças similares, violência sem conta, e toda sorte de crime, um dos quais atende pelo nome de miséria, para não falar das doenças e dos fenômenos naturais aterradores. Então, é Natal nesse ambiente de supremas desigualdades sociais que se mantém persistente em suas iniquidades? Talvez o Homem nascido há 2021 esteja cansado de nós e tenha se recolhido entre montanhas de nuvens no Céu e esteja pensando o que fazer, se volta, como esperam certos religiosos, para arrematar o trabalho que iniciou há mais de dois milênios. Definitivamente, não aprendemos as lições de Jesus! Ele, suponho, talvez quisesse que fosse visto dentro de cada uma das pessoas e, talvez ainda, que se lembrassem todos os dias e não apenas em apenas um regado a sustâncias líquidas que entorpecem os caracteres cuja força de preservação os faz renascer, como as cigarras, os mesmos hábitos que, vistos de outra perspectiva, não passariam de ilusão, mas também de loucura. Muitas gerações se passaram e outras passarão e a todos nós parece caber apenas uma breve incursão pela vida sem nunca despertarmos do sono de que são feitos nossos persistentes hábitos que herdamos de nossos antepassados sem pensar que Jesus queria que fôssemos como Ele. Talvez ainda possamos nos reconciliar com Jesus, com os nossos antepassados e com nós mesmos. Por que, não? Feliz Natal!”

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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