MORTE DE UM FILHO DILACERA O CORAÇÃO

Não sei se entendi a notícia que se espalhou hoje (24) nas redes sociais de Ibiúna. Um pai, por conta de uma dívida de R$ 5 mil, matou o próprio filho a tiros no bairro do Regi? Isso é verdade? Aconteceu mesmo? Mas que pai faria uma coisa tão cruel e impiedosa, um pecado tão descomunal?

Dizem que o pai, ao tentar fugir, foi preso na Rodovia Bunjiro Nakao. Ele poderia fugir para algum lugar depois de cometer um crime tão abominável? A resposta é não! Não poderá fugir de dentro de si mesmo e dos seus pensamentos tenebrosos. A menos que esse espécime não seja humano. Por acaso, ele não fez amor com uma mulher, não a engravidou, não viu o filho nascer, não cuidou dele, não o pegou em seus braços, não sentiu amor da paternidade?

Para um pai de verdade, filho jamais é devedor! Pai é protetor, quer ver sua cria feliz na vida. Nem importa o valor da discórdia nesse caso! O filho teria que pagar a dívida com a própria vida, como aconteceu? E dizem, ainda, que o filho morto acabara de se tornar pai de uma menina, o que faz do seu assassino um avô.

Em todo o mundo, quando pais perdem filho por doença, guerra, acidentes, sofrem uma dor sem fim, uma dor que sangra por dentro, dor de todos os dias, dor da saudade, da falta, do contato presencial. Talvez, quando estão na iminência da morte, a última lembrança seja a imagem daquele ou daquela que se foi  contrariando a ordem natural das coisas. Filhos sepultam pais, não o contrário.

Mas, matar um filho é demasiado insano, repugnante, insuportável. Remete para a maldade que existe potencialmente nos seres humanos, mas que é sobrepujado exatamente pelo amor que podemos sentir uns pelos outros, sobretudo no ambiente familiar, onde o amor pode atingir o ápice de sua realização. O amor talvez seja a instância mais elevada na frágil condição da existência, também no mundo animal. Sem amor não há espécie, e também parece não haver sentido na vida.

Encerro com uma frase de autor anônimo:

“Quando o meu filho segurou os meus dedos com a sua mãozinha pela primeira vez, eu descobri o que era o amor verdadeiro.”

Essa frase parece ter origem paterna. Vamos imaginar, no caso da mãe? “Quando sua pequenina boca tocou meu peito para a primeira mamada, eu descobri o que era o amor verdadeiro.”

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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