AS NUVENS
As nuvens são um espetáculo natural fabuloso. Algo me atrai nelas como um encantamento, uma dádiva.
Antes as via de maneira comum, como fazemos habitualmente com os fenômenos que nossa mente catalogam como presenças ordinárias, que inclui até mesmo o sol, que nos envia sua luz e calor, como se não fosse algo simplesmente extraordinário e maravilhoso.
Os hábitos têm o poder de nos tornar míopes para tudo aquilo com que nós nos acostumamos, pelo simples fato de que parecem uma constante repetição.
De tanto ver certas coisas em si como a mesmice do dia a dia, passamos para o modo automático de vê-las, isolando-as de nossos sentimentos e da nossa curiosidade, que estimula nossa percepção.
Desde que passei a contemplá-las, sem me deixar levar pelos possíveis efeitos de pareidolias, quando elas se transformam em navios, homens e os mais diferentes animais, como se fossem miragens, com uma infinidade de tamanhos, formatos, quantidades, alturas, contra o fundo azul do céu.
É realmente divertido apreciá-las e vê-las flutuando e às vezes se espichando ou em rápidas movimentações provocadas pelos pincéis do vento.
Há quem goste daquela profusão de carneirinhos que parecem brinquedo de anjos, outros que ficam apreensivos com aquelas massas espessas e sombrias, que antecedem as chuvas e temporais.
Da janela do meu quarto vejo as nuvens por entre as folhas e os galhos das árvores e as borboletas amarelas que voejam em pares sobre as flores das caliandras e das primaveras.

Aqueles que deixaram de olhar para o firmamento pelos mais diversos motivos, talvez perdidos nas ondas de pensamentos rebeldes, não sabem o que estão perdendo.
E a gente nem evocou os poemas escritos em forma de painéis coloridos e cores compostas pelos raios solares no amanhecer e no entardecer, como gigantescas tonalidades púrpuras, que fazem dos praticantes de meditação um intenso momento de transcendência.
As nuvens estão sempre brincando, como a gente fazia quando éramos crianças e o nosso pequeno mundo era um raro Shangri-Lá. (C.R.)