Hospital de Ibiúna 0h

Entro ao Hospital Municipal de Ibiúna exatamente às 22h30 desta terça-feira (13). Antes de chegar ao balcão envidraçado da recepção, onde há duas atendentes, observo um grupo de pacientes à espera do atendimento. O ambiente está tranquilo.

Acompanho um parente que estava com pressão alta, febre, ânsia de vômito, dores nas juntas, coriza e distúrbio gástrico. O teste para dengue deu negativo, para covid-19, positivo.

Era uma das suspeitas diagnósticas do Dr. Ricardo Pagrion, que se mostrou acolhedor e carinhoso no atendimento, como a enfermeira Vanessa, notavelmente atenciosa. Em resumo, o atendimento foi profissional e eficiente considerando a quantidade e diversidade de pacientes naquele momento.

Pude testemunhar a dedicação de três profissionais da enfermagem que se revezavam harmoniosamente na chamada dos pacientes sentados no corredor, cada qual com necessidade específica: comprimido para  baixar pressão, aplicação de soro, injeções de antibióticos, incluindo a temida benzetacil, remédio contra náusea.

A certa altura ouve-se um grito assustador. “É um paciente psiquiátrico”, sou informado.

Antes disso há uma repentina agitação no corredor. Observo a distância alguém cair no piso fazendo um estrondo. Um rapaz jovem, com barba, acabara de se atirar ao chão. Segundos antes, ele havia, subitamente, desferido tapas em duas pessoas, tentara beijar uma enfermeira e tomar posse de um celular. O porteiro interveio, e vendo que o homem estava surtado, agiu de modo respeitoso, até o homem retornar à recepção.

Como se vê, o clássico cartaz em que uma elegante enfermeira põe o dedo indicador na frentedo nariz lembrando as pessoas que mantenham o ambiente em silêncio tem estado cada vez mais fora da realidade hospitalar.

A GCM foi chamada a intervir para garantir a segurança no local, já que o jovem, muito alterado, poderia tentar agredir outros pacientes.

Fatos dessa natureza não são raros considerando que o hospital é o destino de muitas pessoas com as mais diversas enfermidades, vítimas de acidentes, alguns extremamente graves, coma alcoólico, overdose, picadas de cobras e aranhas, quedas de cavalo, fraturas expostas, problemas cardíacos, pressão alta, crise de diabetes, e tantas outras.

Tanto os médicos quanto o pessoal da enfermagem, que atua na linha  de frente, repetimos, com notável dedicação, segurando o rojão como se diz, deixam claro o  propósito de realizar o melhor desempenho, mesmo com todos os problemas estruturais que persistem e provocam constantes queixas dos pacientes.

Neste momento todos estão à espera do que vai acontecer quando for anunciada a empresa vencedora da licitação para gerenciar o hospital, já que o prazo do contrato da empresa que continua atuando ali foi encerrado há meses. E todos esperam por dias melhores como vêm sendo prometidos desde a campanha eleitoral  pelo novo governante do município.

Perto da 0h, deixamos o hospital e fomos para a única farmácia aberta 24h na cidade, na rua XV de Novembro, serviço que vinha sendo reivindicado pela população há tempos e pelo qual vitrine online fez o bom combate, como pode se visto no noticiário publicado com destaque. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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